terça-feira, 25 de outubro de 2011

Escrever, apenas

Consequência de uma pausa...
Não sei o porquê, nem o quê, nem pra quê, nem como, mas hoje me deu uma vontade enorme de escrever. Deve ser saudades daqueles tempos em que eu simplesmente deixava tudo aflorar, em que os sentimentos vinham, literalmente, à flor da pele, em que mesmo sem tempo eu dava um jeito de arrumar algum só para não deixar o blog às mínguas, em que era fácil fazer apenas um fluxo de consciência com minhas opiniões e rapidamente publicá-lo sem nem pensar muito...ê saudades, não tem como, ela sempre vai estar presente em nossas vidas, seja para nos trazer boas lembranças, seja para nos alertar para o modo como estamos levando nossas vidas ou seja apenas para senti-la, assim, tão dentro de nós, às vezes mais perturbadora do que gostaríamos, por outras tão singela que dá até vontade de não expulsá-la de nós, talvez para nos fazer sofrer um pouco, afinal, que importância tem, se só sentimos saudades do que foi bom, não é mesmo? Acho até que saudade é um dos sentimentos mais verdadeiros, porque ela simplesmente acontece, principalmente quando menos esperamos, quando vemos alguma imagem/cena que nos faça rememorar aquela lembrança e pensar: "nossa como foi/era bom!". E aí tudo acaba em outro pensamento: "pena que não tem como voltar atrás, que não tem como fazer tudo acontecer de novo". Querem a verdade do meu ponto de vista? Sim, aquelas lembranças nunca mais voltarão. Primeiro, sua idade é outra. Segundo, o momento da sua vida é outro. Terceiro, seus amigos podem não ser os mesmos e conseguir reunir os de "antigamente" é mais difícil do que se possa imaginar! Quarto, cada momento é único - sim é uma frase clichê mas que faz todo o sentido -, portanto é impossível, mesmo que tudo seja reproduzido como antes, sentir tudo do mesmo jeito, pelo contrário, provavelmente será mais uma lembrança guardada com carinho para te fazer sentir saudades depois...
Agora, uma curiosidade que eu gosto dizer, também sem saber o porquê, na verdade, deve ser apenas aquele instinto patriota que insiste e persiste dentro de mim - mesmo perante tantas coisas que nos faça pensar justamente o contrário, infelizmente! Alguém aqui já sabia que a palavra saudade só existe no Brasil? Sim, o que não exclui o fato de o sentimento ser universal, acontece que nos outros países ela é chamada de outra forma, ou simplesmente não tem denominação própria, pode ser apenas um "I miss..." norte americano, traduzindo: "sinto falta...".
Parece até que estou escrevendo como antes, misturando assuntos, começando de um jeito, terminando de outro, e sendo bastante informal. Será só saudades ou uma volta repentina ao verdadeiro jeito de ser? Não, creio que exagerei, meu jeito de ser é o mesmo, talvez com uns pequenos aperfeiçoamentos...nunca deixei de falar como antes, sempre falo, falo, falo, falo, falo, falo, falo, e falo mais um pouco até misturar todos os assuntos num só, aprontar confusões, provocar risadas, fazer intertexto com coisas "nada a ver", lembrar de uma música (isso sempre acontece, incrível!) ou de outra história e começar a contá-la também, porém o melhor é que no fim me entendo muito bem com todos e chego ao meu objetivo de falar o que queria a princípio, bom pelo menos é o que eu julgo acontecer!
Talvez só me faltasse um pouco mais de força de vontade em me dedicar à escrita. Por várias vezes tenho vontade de escrever um conto, uma crônica, um desabafo, mas sempre paro diante de pequenos impasses ou até mesmo da preguiça...aaaah, essa é outra que foi inventada para atrapalhar a vida gente, na maioria das vezes. Preguiça é até bom, desde que seja naquele dia que você pode descansar, pode simplesmente acordar, comer, dormir de novo, acordar, comer, assistir um filme, ler um livro, comer, dormir e um ciclo vicioso se inicia...caso contrário, ela dá um trabalhão! Deixa-nos apáticos, cabisbaixos, cansados, pensando alto (ou seja, no que menos nos interessa), faz com que nos tornemos verdadeiros "enroladores", deixando tudo para depois. Ainda bem que a preguiça atinge a todos, se não, ficaria envergonhada ao dizer que por vezes deixo de escrever por pura e simples preguiça...tá, já estou envergonhada! Contudo, penso que a preguiça é apenas um pretexto para o que eu não quero admitir: a falta de inspiração, ou de vontade de pensar ('coisa' que para mim é um absurdo ter que admitir, mas já que a sinceridade também é um dos meus pontos fortes...). No fundo, tenho para mim que o que é bom mesmo é fazer aquilo que se tem vontade, não que seja sempre assim, porque nem dá né, mas fazer o que gostamos, quando queremos e podemos, realmente não tem preço, e quando não se tem vontade: "aah, deixa pra depois mesmo..." E como o blog não é algo obrigatório, é para me dar prazer (e tentar dar prazer aos outros, quem sabe de vez em quando eu consiga, ficaria até feliz), vale a máxima de se escrever o que eu quiser (dentro do politicamente correto, obviamente, o que não é problema para mim, uma pessoa exageradamente politicamente correta, rsrs), quando quiser. Espero que com você aconteça o mesmo, afinal, nada melhor do que ter liberdade para viver!
Estou "sentindo" que falei demais, misturei assuntos e agora estou encalhada de pensamentos aqui, sem saber como terminar um post que começa falando da vontade de escrever, fala sobre saudade, em seguida sobre preguiça e termina com liberdade. Então, ainda bem que existe livre arbítrio e eu me permito usufruí-lo (tá, só às vezes...), portanto termino assim mesmo, como sempre terminei: simplesmente terminando (?). Apenas dizendo que a vontade de escrever voltou a florescer, que o fluxo de consciência continua o mesmo - até um pouco mais organizado - e que os sentimentos estão aí, para serem vividos, experimentados, alguns excluídos outros para serem vícios e quem sabe bem guardados...até mesmo porque, o que seria de nós, seres humanos, sem as memórias, sem as lembranças, não sei se já repararam, mas muitas vezes somos movidos por conta delas.
Que tal um poema de João Cabral de Melo Neto, bastante sugestivo? Pois dessa vez termino com um poema, não com uma música ou um pensamento ou uma simples conclusão!

A lição de poesia - João Cabral de Melo Neto
1.
Toda a manhã consumida
como um sol imóvel
diante da folha em branco:
princípio do mundo, lua nova.
Já não podias desenhar
sequer uma linha;
um nome, sequer uma flor
desabrochava no verão da mesa:
nem no meio-dia iluminado,
cada dia comprado,
do papel, que pode aceitar,
contudo, qualquer mundo.
2.
A noite inteira o poeta
em sua mesa, tentando
salvar da morte os monstros
germinados em seu tinteiro.
Monstros, bichos, fantasmas
de palavras, circulando,
urinando sobre o papel,
sujando-o com seu carvão.
Carvão de lápis, carvão
da idéia fixa, carvão
da emoção extinta, carvão
consumido nos sonhos.
3.
A luta branca sobre o papel
que o poeta evita,
luta branca onde corre o sangue
de suas veias de água salgada.
A física do susto percebida
entre os gestos diários;
susto das coisas jamais pousadas
porém imóveis - naturezas vivas.
E as vinte palavras recolhidas
as águas salgadas do poeta
e de que se servirá o poeta
em sua máquina útil.
Vinte palavras sempre as mesmas
de que conhece o funcionamento,
a evaporação, a densidade
menor que a do ar.

2 comentários:

  1. Adorei a poesia, Letícia!
    Abraços e Ótimo final de Semana =*

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  2. Ah, sou suspeita, mas para mim João Cabral de Melo Neto é sempre adorável...rsrs
    Abraços, ótimo final de semana para você também!
    ;)

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