sexta-feira, 21 de setembro de 2012

"O Médico"

Consequência de uma pausa...


Como seria um médico perfeito, ou melhor, um bom médico para você?
Talvez não seja aquele que apenas medica, mas sim aquele que orienta, escuta, observa, distribui atenção e carinho, preocupa-se, doa seu tempo e seus pensamentos para que o melhor seja proporcionado ao próximo.
Romantismo da minha parte? Creio que estamos muito mal acostumados com os ruins, de forma que os bons não estão tendo a visibilidade e os devidos merecimentos. Existem inúmeros espalhados mundo afora, e eu tenho o maior prazer em ter contato com muitos professores bons médicos na minha faculdade, os quais sabem orientar e ensinar seus alunos os caminhos a serem seguidos para tornarem-se médicos humanos, e não médicos,  apenas. Vale ressaltar que eles ensinam, tentam, estão dispostos a isso, no entanto, nem todos os alunos estão dispostos a receber essas orientações e a levá-las à sua prática.
Médico qualquer um que se forma pode ser, mas ser médico, ser um médico humano, é diferente, nem todos têm esse dom, nem todos são capazes ou estão aptos a tratar o próximo como gente igual a ele, como um ser humano que está sofrendo, que precisa de apoio, de auxilio, de ajuda, que precisa de alguém ao seu lado. E mesmo que o melhor não possa ser feito, que não exista condições, garanto que o esforço e a força de vontade em levar saúde - psíquica e física - para as pessoas já valem o bastante para ser reconhecido como um bom médico.
Pergunto-me, às vezes, o que me levou a querer ser médica. Por enquanto acredito que seja por gostar de conviver, por gostar de gente, por gostar de ajudar os que precisam, por sentir prazer em um sorriso recebido após um ato por mais simples que seja. Hoje, por exemplo, tinha um seminário de microbiologia para ir, fiquei esperando o elevador, e assim que a porta abriu, duas senhoras de idade, uma de muleta, inclusive, apareceram a minha frente, dei um sorriso e um bom dia, e fui retribuída com outros sorrisos e bom dias, com carinho, elas sentiram-se a vontade para me perguntar onde poderiam fazer o exame de ultrassom. Acho que é por aí que um bom médico é formado, quando as pessoas se sentem a vontade com ele, pois vejo e tenho contato, diariamente, com pessoas que não se interessam pelo próximo, que são indiferentes à dor de quem está ao seu lado e mesmo assim estão cursando medicina. O que as trouxe aqui? Dinheiro e status são as primeiras palavras que me vêm à mente. Estudantes de medicina que acham ruim ter contato com gente, que reclamam das práticas médicas na comunidade que temos durante o curso inteiro, que não se dão "ao trabalho" de desejar um bom dia aos pacientes que cruzam nos corredores do prédio em que temos alguns seminários, não deveriam ser estudantes de medicina. Apesar de tudo, ainda tenho esperanças de que durante esse processo em que são simples estudantes possam amadurecer e repensar suas atitudes.
Um bom médico não se faz sozinho, um médico só se torna bom médico com a ajuda dos pacientes, é um trabalho construído aos poucos, a cada consulta e, principalmente, juntos. Não imagino como seja perder um paciente, mas creio ser muito doloroso. E como se portar diante de tal acontecimento? Nosso médico da obra de arte observa, expressa tristeza, dúvida, talvez aquela sensação inacreditável de impotência, de que quem comanda tudo ainda é Deus, compartilho minha ideia sobre isso assim que estiver ganho mais experiência...
O interessante é que o bom médico também é relativo, de acordo com cada paciente. Quem nunca foi à um médico por indicação de um amigo ou parente e saiu do consultório decepcionado porque não foi o que esperava? Isso acontece, não é porque é um bom médico para um que será para todos, assim como, não são todos que estão prontos a receber os cuidados de um médico, seja ele bom ou não.
O que é ser bom ou ruim? O que é normal ou anormal? São questões próprias a cada um de nós, com certeza, entretanto, educação, respeito e dedicação ao próximo devem ser constantes. Tornam não só o médico bom, e sim toda a humanidade boa. E, tudo o que é trabalhado em conjunto, em sintonia, com vontade de todas as partes, possui chances de dar mais resultados positivos, satisfatórios. Acho que falta um pouco de coragem por parte dos próprios pacientes, em dizer ao médico o que está achando da consulta, o que achou disso ou daquilo. Pois saibam, médico não é o Deus na Terra, médico é um instrumento de Deus, assim como qualquer outra pessoa, de qualquer que seja a profissão, ele pode estar errado. Ele também é humano e tem seus problemas, também precisa de alguém para auxiliá-lo, ouvi-lo. Então, se algum dia não estiver gostando da consulta, por que não ir aos poucos dando sinais de que algo está te incomodando, por que não desviar um pouco o foco daquilo que está te causando mal estar, por que não falar ao médico que ele está diferente, que você esperava isso e aquilo? Não são todos os médicos que estão dispostos a receber críticas de pacientes, embora eu pense que isso ajuda na construção da relação médico-paciente. Muitos deixam com que o status que a profissão ainda tem em meio a sociedade subam à sua cabeça, tornam-se arrogantes, prepotentes e "donos da verdade", o que é lastimável, visto que muitas pessoas estão deixando de receber os devidos cuidados, de ter uma boa relação com seu médico porque o mesmo acha que está acima de tudo e de todos, que não precisa melhorar em nada e que "quem não gostou que procure outro e vá se arrepender longe". Sinceramente, esses não são médicos, esses são pessoas que sabem a teoria e desconhecem a boa prática. E, para mim, é uma desculpa esfarrapada aqueles que dizem que não recebem incentivos para melhorar, que o "sistema" o faz agir de tal maneira, que a falta de um salário digno o deixa desestimulado...O.K., desestimula, porém, não a ponto de esquecer todos os princípios, de acreditar que os sofrimentos da pessoa a sua frente são menores que os seus.
Enfim, ser bom médico vai muito além de apenas cursar uma faculdade de medicina com boas notas, ser bom médico é uma construção ao longo do tempo, que depende não só do médico e também de todos os que o cercam, de sua criação, educação e caráter. Ser bom médico é um desafio. Desafio esse que merece ser aceito por todos os estudantes e solucionado com louvor. Rubem Alves tem minha admiração, ao menos como escritor e emissor de mensagens reflexivas e verdadeiras, que podem, inclusive, orientar estudantes que estão perdidos em meio a um mundo de conceitos tão deturpados quanto o nosso!

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Meu Gordinho,

Que susto você nos deu noite passada! Sabe, eu sei que a idade vai chegando, aumentando, aumentando e pesando na vida da gente. Mas o Senhor ainda é novo, ainda temos que comemorar seu aniversário de 74 anos em dezembro, o de 75, 76, 77, 78...e quem sabe até lá descobrimos o elixir da vida eterna, por que não? E não me venha com essa história de que comemorar aniversário é ruim porque ficamos cada vez mais perto da morte, comemorar aniversário é bom, muito bom, porque significa que passamos mais tempo com todas aquelas pessoas que amamos!

Não vou dizer toda aquela balela de que você não nos ouve, de que não se cuida direitinho, afinal, de nada adiantará e o acontecido já é suficiente, acredito eu. Além disso, depois desse susto acho que podemos melhorar essas questões e o nosso diálogo, não é mesmo? Morar na cidade e passar os finais de semana na fazenda seria uma boa ideia para início de conversa, e a dieta agora vai ter que seguir bem certinho, ainda bem que temos uma nutricionista vigiando aí né?! E ela sabe que é permitido puxões de orelha!

E tem mais meu Gordinho, o que adiantará eu me formar uma médica (quem sabe geriatra) se não tiver um dos meus velhinhos preferidos, que mais amo, para eu poder cuidar? Pode esperar aí, porque ainda temos muito para vivermos juntos, como sempre foi! O Senhor sabe que é como um pai para todos os seus netos - Felipe, eu e Artur que moramos em Goianésia e praticamente na fazenda com vocês que o diga! Você que sempre esteve ao nosso lado Gordinho, em todos os bons momentos e em todas as dificuldades, como atualmente...só Deus é capaz de saber tamanha minha gratidão pelos seus cuidados comigo aqui em BH, junto de meus pais me proporcionando o melhor para que eu consiga ter uma boa graduação e receber com louvor meu diploma. Se eu estou estudando, em grande parte, é pelo seu apoio, não só financeiro, mas também moral, como um dos meus maiores incentivadores. Assim sendo, não pode ficar faltando nossa foto no meu álbum de formatura, sentirei-me injustiçada se só o Felipe tiver uma dessa!

Sei que daqui de BH não posso fazer nada além de orar pela sua saúde e recuperação. Contudo, saiba que meu coração só agora está se reconstituindo do susto dessa noite e mesmo assim a cada pedacinho reconstituído um outro se despedaça por não poder estar ao seu lado e de toda a família nesse momento. De qualquer forma, também aprendi com o Senhor a ser forte e sempre seguir em frente, portanto, continue com toda essa força e determinação que sempre teve durante toda sua vida que logo, logo, estará confortável em casa. E no feriado de 7 de setembro quero poder chegar aí e te encontrar bem forte, fofinho e quentinho para poder te abraçar com toda a minha força, te implicar como sempre, te fazer rir com todas as minhas palhaçadas (vou até pensar em um novo repertório!), fazer cosquinhas, te chamar de meu gordinho, mexer com seu ralo cabelo branco, puxar suas orelhas e todos aqueles carinhos (muitos diriam: "de mula") a que estamos acostumados a fazer um ao outro.

Nesses momentos a distância parece ser maior do que é, entretanto, nem por isso me deixarei abater, afinal, sei que meu Gordinho está em ótimas mãos, com os melhores médicos, com o melhor aparato hospitalar disponível, com toda a família de olho e com Deus mais do que nunca cuidando de todos nós. Devemos acreditar que nada acontece em vão, que Deus faz tudo como deve ser, que só Ele sabe o que é melhor para nós e só pelos Seus caminhos poderemos ser felizes, então, vamos acreditar que Ele só queria nos passar um sustinho bobo para prestarmos mais atenção em como conduzimos nossas vidas. Talvez até para me ensinar a dizer mais vezes o quanto amo minha família e o quanto gostaria de poder estar sempre ao lado de vocês. Sei que muitas vezes sou uma neta desnaturada, que fica dias sem ligar, o que mostra o contrário dentro de mim, porque não esqueço um único dia dos meus dois gordinhos, não deixo passar um dia sem orar por vocês, não fico um dia sem sentir a falta de vocês aqui. Posso dizer que a saudade é a minha maior companheira enquanto estou longe de vocês. Agora, acho que só tenho a agradecer a Deus por ter permitido que meu Gordinho continue ao meu lado, por permitir que eu tenha nascido em uma família tão linda e unida como a nossa - esqueçam todas aquelas brincadeiras de que eu não pedi para nascer e de que não tive a chance de escolher em qual berço nascer, são só minhas palhaçadas com vocês, não haveria lugar melhor para eu poder nascer, sou muito feliz por estar ao lado de todos vocês. É impossível descrever o quanto os amo, o quanto amo você meu Gordinho e o quanto gostaria de estar ao seu lado segurando suas mãos ou, ao menos, ao lado de toda a família amparando-a. E, ainda bem que nos falamos no dia dos pais e eu pude dizer que o amo!

Por fim, acalma esse coração e avise-o que o trabalho dele não pode parar, que ele ainda tem muita sístole e diástole para fazer, muito sangue (agora, sem excesso de gordura, diga-se de passagem) para passar por ele, muito tum-tum-tum para eu poder ouvir com meu estetoscópio durante as férias, treinando minhas habilidades médicas, muita pressão arterial para eu treinar a aferição, muitas palhaçadas e aprendizados para fazermos juntos e muitas visitas prometidas sua para me fazer aqui em BH.

A minha intenção não era prolongar essa carta, porém é difícil não prolongar uma resposta de carinho, afeto, atenção e amor vividos ao longo de 19 anos unidos. Hoje passei um tempão olhando nossa foto tirada no Rio Araguaia quando eu tinha apenas 6 meses de vida, que vontade de poder cantar novamente o "ã, ã, ã" para você, de "fazer bixinho", de tentar aprender a jogar baralho, às vezes crescer nem é tão bom...(e depois dessa quero que o senhor prometa que não vai deixar o resto da família fazer bullying comigo, curtindo com a minha cara quando eu chegar aí, me mandando cantar e etc e tal! Pensando bem, isso vai ser inevitável! Risos!).

O mais importante é que você está lendo essa carta e compreendendo tudo o que quero dizer, que se resume em poucas palavras: AMO VOCÊ INCONDICIONALMENTE! Como também amo cada momento que passamos e iremos passar juntos!

Beijos,
De sua neta Letícia Vieira da Cunha.

OBS.: Essa carta foi escrita nessa tarde do dia 15 de agosto de 2012, um dia após meu avô paterno sofrer um infarto agudo do miocárdio. Ele ainda está internado na UTI do Hospital do Coração Anis Rassi, mas é uma fortaleza e está se recuperando muito bem e logo estará em casa novamente! Só estou compartilhando porque senti a necessidade de dizer publicamente o quanto o amo e também para que outras pessoas se espelhem nessa história e não percam tempo com brigas e desavenças, porque o amor que sentimos pela nossa família nunca morre, só se desenvolve, cresce, aumenta, e, lamentavelmente, quase nunca dizemos isso a eles. De qualquer forma, continuo orando não só pela saúde da minha família, mas também pelo amor...

domingo, 5 de agosto de 2012

Amém!

Antes de tudo, cuidado com sua interpretação. Essa postagem não tem a intenção de agredir ninguém, só esclarecer ou garantir um pouco de reflexão nesse mundo de ideias deturpadas, bem como não escrevi de má fé, muito pelo contrário. De antemão já peço desculpas caso alguém se sinta prejudicado, realmente não é a intenção. E estou ciente de toda a minha sinceridade (talvez ingênua, nesse caso). Caso queira esclarecer algo, existem as opções de enviar-me um e-mail ou comentar aqui no blog mesmo, pois sei que esse tema é muito delicado. (Sim, estou com receio de possíveis consequências, no entanto, preciso desabafar).
As redes sociais têm seu lado positivo e negativo, como tudo na vida. Entretanto, ultimamente, tenho visto postagens muito desagradáveis, não somente religiosas, mas em todos os sentidos, estilos e temas. E, cá para nós, essas redes sociais me cansam cada vez mais, já prevejo o dia em que continuarei só com o blog e o Messenger (já em desuso) – e olhe lá!
No momento pretendo falar das religiosas. Muitos podem achar que é por eu ser católica, mas essa não é a questão que irei discutir, até mesmo porque, isso, teoricamente, não se discute - determinação cultural, moral e ética, felizmente. Ou melhor, tentarei ser o mais imparcial possível, o que é difícil diante dos fatos, porém, tentarei ao máximo. De qualquer forma, o que entra em pauta é: respeito.
Há alguns dias, postaram no Facebook uma imagem com um texto – como de praxe – sobre um paciente que vai ao médico e o mesmo não está, a partir de então, comparam o médico a Deus, a mãe do médico à Maria e a secretária aos Santos. De forma que a mãe e a secretária não resolvem os problemas do paciente, só o médico, fazendo-se desnecessárias. Sinceramente, essa comparação é infeliz!
O que mais me intriga não é nem a comparação realizada e sim a falta de respeito para com as outras religiões. No meu caso, as duas pessoas do meu vínculo de amizades que postaram são ambas evangélicas. Devo levar em consideração que os evangélicos são aqueles que já foram – alguns ainda são – perseguidos, assassinados, discriminados e criticados por serem evangélicos, de maneira que sempre cobraram respeito, aceitação e educação por parte dos outros – obviamente uma cobrança justa perante a sociedade. Sendo assim, como podem atacar outras religiões? Será que sua própria história não contribuiu para sua aprendizagem? (Quero deixar claro que faço essas perguntas a casos isolados, pois como sempre, toda regra tem sua exceção e, inclusive, a maioria dos meus (melhores) amigos e alguns familiares são evangélicos, sendo que eu já frequentei festas comemorativas, cultos, encontros e shows evangélicos sem maiores problemas, pelo contrário, sempre fui muito bem recebida e aceita).
Minha concepção de vida é: eu acredito, de mim para mim, ou, de mim para com Ele. Não sinto a necessidade de ficar afirmando a todo o momento (uma vez ou outra escapa, faço uma citação, mas nada em excesso - diária e constantemente), muito menos de atacar outras religiões, porque assim como eu optei por ser católica outras pessoas optaram por ser evangélicas, espíritas, judias, budistas e tantas outras formas de crer e manter a sua fé ou simplesmente não acreditar. Dessa forma, eu nada tenho a ver com isso, cada um faz sua escolha a partir do que lhe é necessário, do que lhe ajuda a ser saudável, a ter paz interior ou ser uma pessoa melhor, e, acima de tudo, eu respeito a escolha de cada um. Todos têm o livre arbítrio de acreditar no que bem entende ser a melhor opção – ou não acreditar em nada. Resumindo, cada um acredita no que quiser e mais ninguém deve se importar com isso, obviamente desde que essa crença não interfira no bem estar de outras pessoas ou meio ambiente. (Meu lado pessoal, parcial, crítico, analítico e irônico quer que eu escreva: Qual é o problema se eu acredito em Maria e nos Santos? Se alguns estiverem certos, quem vai para o inferno será eu, não? Desculpa se agredi alguém, não é a intenção).
Lógico que muitas pessoas enxergam no Facebook uma maneira de se autopromover ou deixarem bem claro suas concepções de vida. Não critico quem não acredita nas intervenções de Maria ou dos Santos, quem não acredita tem seus porquês e seu direito em não acreditar, porém, critico o modo como o fazem, como querem esclarecer isso. Ao fazerem a comparação com uma consulta médica não levaram em consideração que existem pessoas que acreditam e que poderiam se magoar com a publicação, esqueceram-se do respeito a crenças diferentes da sua e de que o fato de eles não acreditarem não os tornam melhores ou piores do que os outros, afinal, nenhum ser humano é dono da verdade – e enquanto na condição de humanos somos todos susceptíveis aos erros - e cada um tem sua própria interpretação da Bíblia – ao menos é o que se espera. Ah, só mais uma coisa, e se a mãe do médico também for uma médica? E se a secretária te indicar para outro médico que resolve seu problema? São boas intervenções, não? Risos.
Outra postagem que tem se propagado nas redes sociais, nesse caso, principalmente por ateus e agnósticos, é a imagem do Papa sentado ao trono, na qual o pessoal manda-o vender o trono de ouro para alimentar os pobres. À primeira vista é mais do que justo, não é mesmo? Confesso que no primeiro segundo até eu concordei com a ideia. Porém, vamos pensar um pouco mais...
OK. O Papa desmancha seu trono, vende o ouro e alimenta os necessitados. Pronto, o ouro acabou e novamente a Igreja precisará do dinheiro dos fieis para continuar alimentando os pobres – que lamentavelmente são muitos e a tendência é aumentarem. Agora, olhando pelo lado histórico, o trono é (mais um) patrimônio da Igreja, portanto, muita burocracia e história o envolvem, tornando difícil seu desfeito. Além disso, de acordo com o Tratado de Latrão o trono é intocável neste sentido.
Como uma pessoa de capacidade crítica e analítica possuo muitas críticas à Igreja Católica Apostólica Romana, tanto positivas quanto negativas, mas, acima de tudo, entendo que a Igreja é constituída por seres humanos, tão susceptíveis ao erro quanto eu, uma mera mortal. Historicamente a Igreja Católica já errou muito, alguns erros, inclusive, já foram reconhecidos e pedidos de desculpas feitos. Confesso que não sigo todos os mandamentos da Igreja Católica, por simplesmente não concordar, e tenho meus motivos e justificativas, entretanto, isso não exclui ou diminui minha fé, que ao contrário se fortalece a cada dia, a cada oração, a cada leitura diária da Bíblia. E, muitos trabalhos da Igreja Católica ganham minha admiração, atenção e participação.
Outra questão é: o que cada um de nós fazemos para ajudar os que não conseguem se manter sozinhos? Doar uma cesta básica a cada Natal é suficiente? Entregar umas moedinhas no sinal já está de bom tamanho? Por acaso já visitou alguém em alguma comunidade ou algum país carente para entender a realidade em que vivem? Já distribuiu o amor, a atenção e a compreensão a essas pessoas? Já as ouviu, sabe do que elas mais precisam? Realmente, é muito fácil apontar os erros, os defeitos dos outros não é? Como também é muito fácil sentar em uma cadeira e passar o tempo nas redes sociais atacando-os. Por que não usar este tempo para fazer o bem ao próximo?
E outra, qual a finalidade de sair divulgando trabalhos voluntários? O mundo é tão hipócrita que a quantidade de pessoas que fazem trabalhos voluntários e saem por aí publicando fotos e textos bonitos só em busca do reconhecimento de que faz algo uma vez ao ano para contribuir com a humanidade, só querem mostrar aos amigos: “olha, eu participei” ou garantir uns pontinhos a mais em uma análise de curriculum, mas e então, o que aprendeu com tudo isso? Por acaso não agregou humildade e simplicidade às suas características? Por que não propaga seu aprendizado? Como eu imagino, deve ser muito fácil e cômodo ser bom ao próximo uma vez ao ano e ser aclamado pela plateia.
O trono papal alimentaria sim muita gente, mas mais do que o trono papal, a união e a boa vontade da humanidade alimentaria muito mais. É uma pena que o ser humano seja absurdamente hipócrita, egoísta, egocentrista, ambicioso, avarento e todos esses adjetivos que dão repulsas. E, pobre de mim, ser tão idealista e ter um senso de justiça e analítico tão aguçado quanto...

sábado, 28 de julho de 2012

Agenda telefônica

Consequência de uma pausa...

Enquanto enrolava para fugir da obrigação de ter que dar uma geral no apartamento inteiro (quero virar socialite logo para ter empreguetes e poder viajar /com meus peguetes? talvez/ hahaha)  descobri que meu chip simplesmente apagou tudo e mais um pouco do que estava armazenado nele, ou seja, perdi todos os meus contatos da agenda telefônica. No primeiro momento fiquei super chateada, porque alguns contatos não utilizam redes sociais e morando longe fica complicado tê-los de volta à minha agenda. Após um tempo, comecei a filosofar embasada nesse acontecimento...

Ah, pequeno detalhe: meu chip já estava lotado!

(A ordem a seguir não tem relevância, foi apenas a ordem dos meus pensamentos, sem prioridades)

Primeiro: amigos também têm amigos, ou seja, a partir de outros amigos consigo todos os números de telefones de volta, ou 98% deles!

Segundo: sendo eles meus amigos, uma hora ou outra me ligarão ou mandarão uma mensagem e assim poderei armazenar de novo nos contatos.

Terceiro: os que se perderem, ficarem esquecidos por aí, é porque não faziam a diferença na minha agenda, muito menos na minha vida, só ocupavam espaço.

Quarto: já estava na hora de eu dedicar um tempo à minha agenda telefônica e impor prioridades, excluindo quem não faz mais parte da minha vida.

Quinto: há males que vem para o bem, ou melhor, há acontecimentos que nos fazem enxergar através de outros pontos de vistas.

Sexto: conforme o convívio social vou adicionando-os novamente.

Sétimo: observando minha vida do ponto de vista da agenda telefônica descobri que tenho muita dificuldade em me desapegar das pessoas ou das lembranças que eu tenho dessas pessoas. Alguns contatos só estavam lá ainda porque tinha receio de apagar, sempre pensando "ah, mas vai que um dia eu preciso..." ou "quem sabe a gente volta a amizade e etc" ou "vou combinar algo qualquer dia desses". Creio que preciso aprender a aceitar os fatos como eles são, se a amizade adormeceu, se o romance já teve fim, não existem possibilidades de algo voltar a acontecer, a não ser que por alguma reviravolta da vida nos encontremos mundo afora, porém, tornaremos a adicionar os novos contatos na agenda, visto que seremos outras pessoas aos olhos uns dos outros. O tempo nos transforma! Preciso praticar mais a lei do desapego - não só em relação aos contatos!

Oitavo: ainda analisando minha vida a partir desse ocorrido percebi que está muito confusa, sem regras, sem prioridades, basicamente a Deus dará. Com toda a certeza, preciso impor prioridades, escolher melhor quem eu quero que faça parte de mim, da minha história. E, a partir de agora, escolherei melhor quem irei adicionar o telefone novamente na minha agenda. Afinal, não preciso de números, preciso de amigos verdadeiros e companheiros, de amores fieis, de família, e ah, de comida e serviços básicos! (preciso conseguir aquele contato do sanduíche novamente! haha)

Nono: por que parei de passar meus contatos do celular para a agenda de papel? Era mais seguro e até facilitava a guardar os telefones na memória...hoje em dia ninguém sabe o telefone de ninguém de cor e salteado mais! E também usava toda a agenda. Confesso que só sei dos meus pais, do meu irmão mais velho, da fazenda, do hospital da minha cidade de origem, da minha madrinha, os meus e...só... Ó céus, minha memória está pior do que eu imaginava! Alguns amigos eu não sei de cor, mas se eu ver o número eu sei dizer de quem é...isso vale alguma coisa? hahaha

Décimo: acho que fiquei tão chocada com a minha memória que mudei os rumos das minhas vãs filosofias e já não sei mais nada sobre minha agenda telefônica, a não ser que voltarei a escrever no papel...
OBS.: Não quero, nem devo, tornar-me (ainda mais) dependente de tantas tecnologias!



quarta-feira, 25 de julho de 2012

Dia do Amigo

Consequência de uma pausa...


A um ausente
Carlos Drummond de Andrade


Tenho razão de sentir saudade,
tenho razão de te acusar.
Houve um pacto implícito que rompeste
e sem te despedires foste embora.
Detonaste o pacto.
Detonaste a vida geral, a comum aquiescência
de viver e explorar os rumos de obscuridade
sem prazo sem consulta sem provocação
até o limite das folhas caídas na hora de cair.

Antecipaste a hora.
Teu ponteiro enlouqueceu,
enlouquecendo nossas horas.
Que poderias ter feito de mais grave 
do que o ato sem continuação, o ato em si,
o ato que não ousamos nem sabemos ousar
porque depois dele não há nada?

Tenho razão para sentir saudade de ti,
de nossa convivência em falas camaradas,
simples apertar de mãos, nem isso, voz
modulando sílabas conhecidas e banais
que eram sempre certeza e segurança.

Sim, tenho saudades.
Sim, acuso-te porque fizeste
o não previsto nas leis da amizade e da natureza
nem nos deixaste sequer o direito de indagar
porque o fizeste, porque te foste.

OS AMIGOS INVISÍVEIS
Fabrício Carpinejar

Os amigos não precisam estar ao lado para justificar a lealdade. Mandar relatórios do que estão fazendo para mostrar preocupação. 

Os amigos são para toda a vida, ainda que não estejam conosco a vida inteira. 

Temos o costume de confundir amizade com onipresença e exigimos que as pessoas estejam sempre por perto, de plantão. Amizade não é dependência, submissão. Não se têm amigos para concordar na íntegra, mas para revisar os rascunhos e duvidar da letra. É independência, é respeito, é pedir uma opinião que não seja igual, uma experiência diferente.

Se o amigo desaparece por semanas, imediatamente se conclui que ele ficou chateado por alguma coisa. Diante de ausências mais longas e severas, cobramos telefonemas e visitas. E já se está falando mal dele por falta de notícias. Logo dele que nunca fez nada de errado!

O que é mais importante: a proximidade física ou afetiva? A proximidade física nem sempre é afetiva. Amigo pode ser um álibi ou cúmplice ou um bajulador ou um oportunista, ambicionando interesses que não o da simples troca e convívio.

Amigo mesmo demora a ser descoberto. É a permanência de seus conselhos e apoio que dirão de sua perenidade.

Amigo mesmo modifica a nossa história, chega a nos combater pela verdade e discernimento, supera condicionamentos e conluios. São capazes de brigar com a gente pelo nosso bem-estar.

Assim como há os amigos imaginários da infância, há os amigos invisíveis na maturidade. Aqueles que não estão perto podem estar dentro. Tenho amigos que nunca mais vi, que nunca mais recebi novidades e os valorizo com o frescor de um encontro recente. Não vou mentir a eles "vamos nos ligar?" num esbarrão de rua. Muito menos dar desculpas esfarrapadas ao distanciamento.

Eles me ajudaram e não necessitam atualizar o cadastro para que sejam lembrados. Ou passar em casa todo o final de semana e me convidar para ser padrinho de casamento, dos filhos, dos netos, dos bisnetos. Caso encontrá-los, haverá a empatia da primeira vez, a empatia da última vez, a empatia incessante de identificação.

Amigos me salvaram da fossa, amigos me salvaram das drogas, amigos me salvaram da inveja, amigos me salvaram da precipitação, amigos me salvaram das brigas, amigos me salvaram de mim.

Os amigos são próprios de fases: da rua, do Ensino Fundamental, do Ensino Médio, da faculdade, do futebol, da poesia, do emprego, da dança, dos cursos de inglês, da capoeira, da academia. Significativos em cada etapa de formação. Não estão em nossa frente diariamente, mas estão em nossa personalidade, determinando, de modo imperceptível, as nossas atitudes.

Quantas juras foram feitas em bares a amigos, bêbados e trôpegos?

Amigo é o que fica depois da ressaca. É glicose no sangue. A serenidade.

(Canalha, Bertrand Brasil, 2008)

segunda-feira, 23 de julho de 2012

"Doutores"

Um fato, no mínimo, engraçado é quando se entra para a faculdade de medicina, os familiares já começam a fazer perguntas, brincadeiras, os amigos e até mesmo os desconhecidos idem. E mais real e engraçado ainda é o status que o estudante de medicina possui no meio social, mesmo que ainda esteja no primeiro período...

Sempre tive muito contato com pessoas mais humildes/de baixa renda. E não só o carinho e a fidelidade que elas têm pelos que as tratam com respeito e afeto chama a atenção, mas também a forma como se colocam submissas a estes que elas consideram superiores. Assim que cheguei de férias no interior de Goiás fiz algumas visitas com meus pais, dentre elas, fomos comer um frango caipira na casa simples de uma família muito querida pela minha. Fui recebida com abraços calorosos, perguntas de como está a faculdade e tratada como “Doutorinha”. Sempre respondo que não precisa falar assim, até mesmo porque, atualmente, ainda faltam 5 anos e meio para eu ser uma médica generalista, fora o tempo de residência e outros estudos. Só que as pessoas insistem no vocativo, e argumentam da seguinte maneira: “ah, mas você tem que ir se acostumando, e agora vai ser nossa Doutora né?!”.

No fundo, porém, eu entendo que isso é cultural, uma tradição. Apesar de contestar o vocativo, acho bonito quando bem empregado, porque é uma forma de prestígio, de orgulho que sentem por quem conseguiu "chegar lá". Não o acho necessário, entretanto, não fico contestando a todo o momento quem assim me chama, até mesmo para não causar algum constrangimento ou evitar mágoas. Nesse momento nada melhor do que sorrir, acenar e receber de mente aberta esse "elogio"!

Muitos estudantes de medicina acham-se melhores do que os outros somente por cursarem medicina. O que também é cultural, afinal, as turmas de medicina são as que têm as formaturas mais esbanjadoras e caras (coitados dos meus pais) desde o início dos tempos, o curso mais caro, o curso de mais prestígio e o mais aclamado pela sociedade. Porém, até que ponto isso é necessário? Concordo que medicina é um curso magnífico, lindo, tanto que o escolhi para ser meu futuro, ao mesmo tempo é difícil, duro e cruel. Para quem ama de verdade, o retorno de todo o trabalho é o melhor e mais esperado, acredito que poucas coisas são melhores do que receber um sorriso sincero após salvar uma vida ou auxiliar no bem estar da pessoa, do que um abraço verdadeiro ou do que ganhar um pote de doce de presente – como ainda acontece no interior. Ah, sim, esqueci-me do dinheiro não é mesmo? Pois é, muitos estudantes ainda são ingênuos ao ponto de entrar para a faculdade acreditando veementemente de que sairão ganhando rios de dinheiro, esquecem-se do propósito da medicina, do juramento de Hipócrates, do objetivo humanitário e, principalmente, do quanto terão que “ralar” para conseguir essa quantia que tanto almejam. Um médico só ganha rios de dinheiro logo no início se tiver muitas influências e QI (quem indica), e olhe lá ainda! E mesmo assim, de qualquer maneira, terá que trabalhar mais do que imaginava que fosse capaz de aguentar, terá que enfrentar inúmeros plantões e adversidades, ou seja, terá que esperar para construir/fazer reconhecerem seu nome, que não passa da consequência do seu trabalho.

Estudantes de medicina são apenas estudantes, como outros quaisquer. Estão no mesmo barco dos estudantes de farmácia, biomedicina, fisioterapia, odontologia, direito, letras, música, engenharias e tantos outros cursos, pois estão todos aprendendo e fazendo acontecer para concretizarem seus sonhos, para no final poderem se orgulhar do canudo que encontrarão em suas mãos. Cursar medicina não os torna diferentes de ninguém, muito menos mais inteligentes ou melhores. Portanto, privilégios não se fazem necessários. Não é por estudarem medicina que são superiores do que os outros. Em termos informais, acho ridículo quem se acha melhor, o dono da verdade por estar cursando medicina. E entendo que é a própria sociedade que constrói, conserta e reforma esse pedestal para os estudantes, afinal, vivencio isso.

Essa história começa da tradição cultural presente na infância. Nasce uma criança e os pais já dizem: "esse(a) será nosso(a) futuro(a) Doutor(a)!". Incrustam na cabeça das crianças de que a melhor e maior profissão que existe em todo o mundo é medicina. Felizmente, medicina não é a melhor, muito menos a maior, é apenas uma dentre tantas profissões que move o mundo, a humanidade. Na verdade, ela só é a melhor e a maior para quem é capaz de amá-la com toda a verdade e a sinceridade que existe em seu coração. Enquanto adolescentes, na fase de escolha da profissão, soma-se a cobrança que surge por parte das escolas e cursos pré-vestibulares. Segundo a maioria dessas instituições, medicina é o melhor e maior curso também, já que quanto maior o número de aprovações em medicina maior a publicidade e maior o retorno financeiro para elas. Como podemos perceber, ainda hoje as pessoas possuem essa ideia deturpada sobre a medicina, pois ainda hoje as pessoas tratam diferente os estudantes de medicina e os médicos propriamente ditos, e enquanto houver esse tratamento diferenciado, haverá quem faça de tudo para ter um filho médico, mesmo que forçosamente a partir de ideias errôneas e vergonhosas.

É incrível a vaidade de muitos estudantes de medicina. São capazes de deixar de fazer algo ou achar que os outros o devem fazer por ser um futuro médico. Repletos de “não-me-toques” e frescuras. Acham-se, ainda, no direito de enfrentar tudo e todos. Também acreditam que o mundo inteiro deve saber que eles estudam medicina. Alguns insistem mesmo cursando os períodos iniciais do curso em sair dizendo "sou médico". Vale ressaltar que o número de estudantes de medicina que estão na faculdade ou no curso pré-vestibular em busca dessa vaga devido ao retorno financeiro e status social é, geralmente, maior do que o número de quem cursa medicina por aptidão e amor. E isso se torna cada vez mais claro à medida que conheço estudantes de medicina em faculdades particulares. Ah, ainda existem aqueles que só estão seguindo essa carreira porque os pais, os avôs, os tios e os primos também o fizeram, como se a aptidão passasse de geração a geração...

Dessa forma, constato que o estudante de medicina têm razões socioculturais para engrandecer a si próprio, ao contrário, também constato que a criação que os pais dão ao filho faz toda a diferença. Devo dizer que ao longo desse tempo e da minha trajetória também conheci pessoas indescritíveis, de enorme capacidade para amar a profissão, os estudos e os seres humanos, até mesmo porque, se a pessoa não gosta do ser humano, não devia ser médica.

Enfim, cursar medicina é indescritível, como qualquer realização de sonho, porém, isso não me torna melhor do que os demais, pelo contrário, me torna cada vez mais e mais humana - em seu sentido positivo -, mais e mais aprendiz. E não é por cursar medicina que vou exigir que me atendam melhor, que me garantam privilégios, que me chamem de doutora, visto que doutora só serei quando concluir um doutorado. Ser médico não significa ser melhor do que os outros ou ter privilégios, significa amar ao próximo de tal maneira que você seja capaz de doar-se a ele. Porque para mim medicina é doação, enquanto não houver doação por parte do médico não haverão ótimas consultas, ótimos tratamentos e pessoas saudáveis. Medicina é realmente para poucos, lamentavelmente muitos "poucos" não merecem, mas quem merece deve lutar até o fim, porque eu acredito - como paciente e como estudante - que são esses que fazem a diferença.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Um presente!

Hoje, gostaria de compartilhar um texto imensamente lindo e verdadeiro, cujo autor foi meu professor no curso pré-vestibular (por pouco também não fui sua aluna no ensino médio, lamentavelmente). Vale ressaltar, que foi/é um dos melhores professores que já tive, tamanha sabedoria, simpatia, poder com as palavras e "valor humanitário" presente em seu ser. Posso dizer que ele conquista a atenção, o afeto e principalmente a admiração de todos que têm o prazer de tê-lo como mestre. O Gordinho, também conhecido como Adriano Alves, possui uma formação de dar inveja, até mesmo porque, garanto que são poucos os brasileiros - sem influências sanguíneas ou genéticas - que sabem hebraico...Arrisco-me a dizer também que não existem muitos professores, de qualquer que seja a matéria, com a multidisciplinaridade que ele tem. Durante uma aula de literatura ele consegue falar de biologia, física, química, teologia, sociologia, filosofia, história e companhia, nos faz aprender de tudo e mais um pouco, nos faz enxergar além e fixar todas as matérias.
Publico aqui um de seus últimos textos publicados no facebook. O texto é grande, mas, garanto-lhes, vale muito a pena a pausa para essa leitura!

"O texto abaixo, apesar de longo, talvez interesse a quem queira refletir um pouco sobre a necessidade de se viver o presente:

Tocando em Frente
Almir Sater

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Hoje me sinto mais forte,
Mais feliz, quem sabe
Só levo a certeza
De que muito pouco sei,
Ou nada sei

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Penso que cumprir a vida
Seja simplesmente
Compreender a marcha
E ir tocando em frente

Como um velho boiadeiro
Levando a boiada
Eu vou tocando os dias
Pela longa estrada, eu vou
Estrada eu sou

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Todo mundo ama um dia,
Todo mundo chora
Um dia a gente chega
E no outro vai embora

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Conhecer as manhas
E as manhãs
O sabor das massas
E das maçãs

É preciso amor
Pra poder pulsar
É preciso paz pra poder sorrir
É preciso a chuva para florir

Ando devagar
Porque já tive pressa
E levo esse sorriso
Porque já chorei demais

Cada um de nós compõe a sua história
Cada ser em si
Carrega o dom de ser capaz
E ser feliz

Certa vez, alguém pediu-me que dissesse alguma coisa sobre a letra “Tocando em Frente”, de Almir Sater. Como não sou bom em música, o que me cabe mesmo é tentar analisar as palavras. É claro que, nem de longe, arrisco-me a afirmar o que o autor pretendia dizer ou coisas do gênero; apenas tentarei reinventar o texto, lendo-o dentro de meu universo imaginário.

No texto, a poesia (ou lirismo, se preferir) está na arte de aproximar o simples do profundo; é isso que dá a sensação de que se diz o óbvio de um jeito completamente novo. A voz que fala “Ando devagar” introduz versos que traduzem o sentimento de quem lê; é como se você já sentisse isso há muito tempo, mas alguém chegou e disse antes de você. Interessante isso, não é? Os mais belos poemas são esses: os que dizem de um jeito diferente o que o leitor já sabia.

O título “Tocando em frente” relaciona, de forma criativa, o contexto rural de “tocar o gado” ao aspecto filosófico que pretende achar a maneira adequada de se viver; é muito inventiva a capacidade de encontrar a reflexão no próprio cotidiano.

Interessante também é a abordagem do tempo presente, que já aparece nos dois primeiros versos: “Ando devagar/ Porque já tive pressa”. Aqui, afirma-se uma maturidade adquirida com o tempo.

Nós, normalmente, temos uma dificuldade enorme de viver o agora! Quando estamos bem, ficamos planejando o futuro, sonhando com o dia em que seremos realmente felizes. Quando estamos tristes, é comum que voltemos ao passado... e aí que choramingamos o famoso “eu era feliz e não sabia”.

O tempo... Que dificuldade temos em vivê-lo! O passado já foi; o futuro ainda não é; o presente passa o tempo todo. Isso! O tempo escorre-nos por entre os dedos; não há como retê-lo. Se você vai escrever a palavra “presente”, quando chegar à segunda sílaba, a primeira já será passado. O presente é um intervalo mínimo, que tende a nada; e, mesmo assim, é só o que temos. Por isso, a palavra é presente; é a dádiva que nos é oferecida; é o presente que recebemos.

E daí? E daí que, apesar de isso parecer óbvio, a maioria tem uma enorme dificuldade em viver um dia de cada vez, em receber o presente de cada respirar, de cada batida do coração.

Sofre-se desde a infância. Um pai, normalmente, não sabe o sofrimento que causa ao filho de cinco anos, quando, em novembro, promete um presente de natal; o menino passará os dias seguintes em agonia, adiando o dia da felicidade. Mais tarde, vem o vestibular e a felicidade é adiada mais uma vez. Muitos passam a vida assim, pensando que serão felizes quando tiverem aquele emprego, aquele carro, aquela casa, aquela namorada. Assim, o indivíduo morre sem se realizar.

Tudo bem! Eu sei! A insatisfação é importante para fazer o homem progredir; é a insatisfação que nos faz melhorar. Mas, se você correr demais, talvez chegue mais depressa ao único futuro certo: a morte. A vida é, apenas, o intervalo entre o início e o fim; é esse intervalo, cheio de presentes, que você precisa perceber.

Cuidado! Andar devagar não significa, necessariamente, trabalhar menos; não significa diminuir suas atividades. Andar devagar significa ter prazer em tudo que se faz.

Na escola, geralmente, o aluno sofre na segunda-feira; sofre quando chega, às sete da manhã, torcendo para chegar logo o intervalo; vem o intervalo e, assim, aguarda-se o almoço. Lá se vai, dia após dia, esperando a felicidade que virá no sábado. Que vida miserável! Por que não tentar ter prazer agora? Você já tentou? Talvez não seja tão difícil assim!

Parte da receita de ser feliz está aí! Planeje o futuro, receba as lições do passado, mas não deixe de viver o agora!

Tudo isso me faz lembrar aquele filme “Click”, com Adam Sandler. Não, não quero falar dele, mas quem assistiu a esse longa sabe do que estou falando.

Os versos “E levo esse sorriso/ Porque já chorei demais” confirmam o aprendizado diante dos acontecimentos da vida e acrescentam uma nova ideia: nesse caso, mostra-se a capacidade que o indivíduo tem de mudar a forma como ele encara a própria vida.

É incrível! Algumas pessoas são sempre tristes; outras são sempre felizes. E, não se engane, nem sempre isso se relaciona de forma direta ao que acontece no dia-a-dia; nem sempre isso é uma questão endócrina, fisiológica. Algumas pessoas, mesmo que não saibam, optam por serem felizes; outras preferem a tristeza.

Escute, na vida, nada faz sentido em si mesmo, nada é bonito ou feio; uma praia linda que nunca ninguém viu não poderá ser linda. Como já disse, nada é bonito, nada é feio; nada é importante, nada é desimportante. Você, inclusive, só poderá ser importante na opinião das pessoas que gostam de você. É isso mesmo! Você não é importante em si mesmo. Não importa o quão inteligente você seja! Não importa o dinheiro que você tenha! Não importa o que você faça! Em si, você é mortal, falível e, às vezes, tolo o suficiente para não perceber que a vida não tem sentido; ela tem sentimento. Claro! Você tem que ser feliz não porque dois e dois são quatro; você tem que ser feliz por causa das pessoas que amam você, por causa das pessoas que você ama.

“Mas a vida humana em si não oferece motivos para a felicidade.”, dirá o eterno pessimista. Que tolice! Ele não percebe que o que ele diz nem sentido tem? Não há razão humana que explique um estado de espírito duradouro. Tudo bem que uma coisa ou outra pode trazer alguma alteração de humor, mas, nesse caso, a mudança é passageira. Quem é triste também não possui motivo lógico para isso!

Por isso, é muito comum ouvir a história de um rapaz que tem tudo e, mesmo assim, é revoltado; da mesma forma, sempre ouvimos falar daquele que nada tem e, ainda assim, é sorridente.

Viu? Você não tem motivo para ser feliz, mas também não tem motivo para ser triste!

A escolha é sua! Espero que aquele que já chorou muito dê um tempo agora! Chega! É hora de sorrir...

Aí vem a segunda estrofe: “Hoje me sinto mais forte,/ Mais feliz, quem sabe/ Só levo a certeza/ De que muito pouco sei,/ Ou nada sei”. Aqui, mais uma vez, revela-se o aprendizado que a vida oferece; esse aprendizado leva-nos a repetir a conclusão a que Sócrates chegou lá na Grécia Antiga, há quase 2500 anos: “Só sei que nada sei”. É claro que essa fala não possui uma dimensão apenas objetiva; é lógico que nenhuma pessoa, por mais inteligente que seja, é capaz de apeender o universo em sua totalidade, mas não é somente isso que se quer dizer. Parece paradoxal, mas não é! A sede de saber é o resultado de se sentir analfabeto diante do mundo.

Você já ficou boquiaberto diante de um belo pôr-do-sol? E o prazer que isso dá? Por mais que eu queira explicar, geometrizar, falar das cores, da simetria, o belo possui mais sentimento do que sentido.

Por mais que eu estude física, o pôr-do-sol será sempre um prazeroso espetáculo, será uma explosão de cores, de lembranças, de sonhos; será a deliciosa impressão de que nada sei.

Você já experimentou isso, essa inacreditável sensação de nada saber? A sensação de gostar de um cheiro só porque ele é bom...

Como cristão, acredito que essa experiência nos aproxima de Deus; torna-nos humildes, cala-nos a voz arrogante e abre-nos os ouvidos, para que possamos ouvi-Lo, falando em nós.

Só assim estarei mais próximo da verdadeira sabedoria e da verdadeira felicidade: tenho que querer saber tudo, mesmo sabendo que nada sei.

Essa disposição para respirar a vida leva-nos a “Conhecer as manhas/ E as manhãs/ O sabor das massas/ E das maçãs”. Só quem está acostumado a sentir as sutilezas do cotidiano é capaz de perceber as mínimas coisas.

Meu irmão Rodrigo é músico; ele, quando toca seu trompete, sabe se uma nota está adequada ou não; quando ouve uma música, ele sabe o que deu errado, que instrumento falhou, que voz não se encaixou... Eu? Não entendo nada disso; meu ouvido não é treinado para essas coisas. Em música, não percebo a diferença entre “manhas” e “manhãs”. Meu ouvido é surdo para isso.

A língua portuguesa é muito rica; sua variedade sonora, inclusive, confunde quem não está habituado com ela. Para um inglês, que vem ao Brasil, talvez seja muito difícil, sonoramente, diferendiar “massas” de “maçãs”. Mas, para mim, que sou daqui, isso é muito fácil e até óbvio.

As diferenças entre o oral e o nasal, o átono e o tônico, o som aberto e o som fechado, tudo isso é muito sutil e difícil de ser percebido por quem não está familiarizado com a língua portuguesa.

O que quero dizer? Simples, pretendo mostrar que, assim como você treina o ouvido para a música ou para uma língua, é necessário treinar o ouvido para a vida.

Às vezes, é preciso parar, frear o tempo para ouvir o pôr-do-sol!

Certa vez, “Oscar Wilde disse que a vida é o que acontece enquanto pensamos em outra coisa”. Então, perceba a vida, sinta-lhe o sabor, o cheiro, misture-lhe as sensações; arrume um tempo para sentar-se à mesa de si mesmo e farte-se, encha-se da própria existência.

Imagine você tentando explicar o gosto do açúcar para alguém que nunca o experimentou; a vida é assim... você tem que vivê-la para experimentar-lhe o sabor.

E o que significa viver a vida? Pensar sobre isso já é um bom começo...

Só assim é que se nota que “É preciso amor/ Pra poder pulsar/ É preciso paz pra poder sorrir/ É preciso a chuva para florir”

Na estrofe acima, inclusive, o último verso faz uma associação interessante; ele relaciona nossa vida à natureza; sentir a vida é algo natural, qualquer um consegue... é natural como a relação entre chover e florir.

Aí, retoma-se a ideia já dita. Parte da lição de ser feliz está em se viver o presente, em se compreender a marcha: “Penso que cumprir a vida/ Seja simplesmente/ Compreender a marcha/ E ir tocando em frente”.

Agora, a discussão volta ao cotidiano da voz-poética: “Como um velho boiadeiro/ Levando a boiada/ Eu vou tocando os dias/ Pela longa estrada, eu vou/ Estrada eu sou”.

E apesar de a problemática ser cotidiana, os sentimentos universalizam-se: “Todo mundo ama um dia,/ Todo mundo chora/ Um dia a gente chega/ E no outro vai embora// Cada um de nós compõe a sua história/ Cada ser em si/ Carrega o dom de ser capaz/ E ser feliz”

Por fim, anote a lição: sinta o agora!"

(Professor Adriano Alves - 15/07/2012)

quinta-feira, 12 de julho de 2012

Dica do dia

Consequência de uma pausa...

Férias é sinônimo de ler, escrever, passear, dormir mais que o necessário, viajar, aprender algo novo ou reforçar o que já aprendeu, enfim, férias é padecer na folga e na preguiça! Por que não curtir esse período assistindo filmes? Bom, tenho uma lista enorme aqui, quatro já se foram!

Desses quatro primeiros já vistos, indico dois. Chocantes, talvez espetaculares. Porém, poucos são os que gostam, até mesmo porque, impossível se sentir confortável diante desses filmes...

O primeiro é um drama, muito bem escrito e dirigido. "Confi@r" é uma obra reflexiva, principalmente para quem já tem filhos. Ele mostra a realidade e a dificuldade de se criar filhos, principalmente com as novas tecnologias. Mas não só isso, vai além, faz-no refletir sobre as relações entre pais e filhos, sobre a compreensão de sentimentos. Outro ponto é a questão de saber onde mora o perigo, porque, ao contrário do que imaginamos, ele pode estar ao nosso lado ou onde menos esperamos. E, como suportar e superar uma tragédia? O título eu interpretei de várias formas:
1. Até que ponto podemos confiar em alguém que conhecemos pela internet?
2. Como criar uma relação de confiança entre pais e filhos?
3. Diante de uma tragédia, seria o suficiente confiar no poder público para solucioná-la?
4. Após essa tragédia, como confiar em mais alguém? Para quem contar segredos e compartilhar sua vida?
5. É possível confiar de olhos fechados em quem está "sempre ao nosso lado"? (Essa foi uma das últimas perguntas, irão verificar na última cena do filme, ao final de tudo. Foi também uma das cenas que me deixou mais surpreendida e chocada, diga-se de passagem!)
Ah, não se esqueçam do lencinho para secar as lágrimas!



O segundo está me fazendo ir em busca do livro que serviu de suporte - embora quase sempre me decepcione com filmes baseados em livros, visto que o filme, geralmente, foge muito do livro e até mesmo muda os rumos das histórias e as mensagens. "A pele que habito", dirigido por ninguém mais ninguém menos que Pedro Almodóvar, é motivo para muito debate, já que Almodóvar caiu no conceito da maioria depois do filme "Abraços Partidos". Sendo assim, muitas dúvidas surgiram em consideração a esse suspense, no mínimo, curioso. Em relação a maioria, no geral, digo que poucos gostam por não ser um filme hollywoodiano, porque querendo ou não, estamos mais acostumados com filmes americanos, infelizmente. Alguns não sabem o que estão perdendo com filmes franceses, indianos, espanhóis, e até brasileiros, que ultimamente têm ganhado pontos positivos comigo.
Voltando...Em A Pele que Habito uma estória extraordinária se desenrola aos poucos. Há algum tempo não via, em um único filme, tantos temas para debates e reflexão misturados ao terror e à ciência. Os encaixes se fazem ao longo do filme, e assim vamos decifrando enigmas e compreendendo ações e reações das personagens. São tantas surpresas e imprevisibilidades que ao final nos vemos boquiabertos.
No momento, citarei algumas das reflexões que perambulam em minha mente...
1. Até onde a ciência é bem vinda e até que ponto o homem pode usá-la ao seu bel prazer?
2. Seis anos é muito tempo! Muitas transformações podem acontecer...
3. O que é loucura? Quando devemos considerar alguém louco?
4. Vingança é loucura? Vingança: não é justo mas é correto? E a justiça pelas próprias mãos?
5. Segredos que podem interferir na vida de outrem devem ser revelados?
6. A fidelidade de uma mãe pelo filho deve superar atos inescrupulosos promovidos pelo filho?
Ah, atentem-se para as obras de arte/pinturas/quadros da mansão. E, uma cena que me deixou desconcertada/enojada - depois descobri que não fora só eu -, a do "tigrão com a Vera", vocês saberão identificá-la e o porquê...
Por último, sinceramente, na minha humilde opinião, Elena Anaya superou Antonio Banderas no quesito interpretação. Ambos surpreendem, entretanto, ela mais que ele!
Confiram essa crítica: http://cinemacomrapadura.com.br/criticas/237267/a-pele-que-habito-almodovar-reitera-seu-potencial-de-contar-grandes-historias/



E questões que ambos os filmes geram: relação entre pai e filha e confiança.
1. O quanto um pai é capaz de suportar são/consciente atrocidades com sua filha? Qual a melhor maneira de agir?
2. Como se baseia a confiança de uma filha pelo pai em "estado de loucura"?

Enfim, são muitos detalhes, muitas estórias, muitas reviravoltas, vale a pena assistir a ambos os filmes! Caso não gostem, peço desculpas de antemão, mas gosto, realmente, não se discute! E, férias ou folga, tudo está valendo para suprir o tempo!

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Aparências

Os Albuquerques formam uma família feliz.

A mãe acorda cedo diariamente para coordenar as funções das empregadas domésticas. Ela também acorda os filhos e o marido. O filho mais novo é o primeiro a se levantar e se preparar para ir à escola, ainda não entende muita coisa, mas o bastante. O filho do meio é menos ativo, porém, mais observador. O filho mais velho é calado e só pensa no mundo paralelo em que vive. O marido, a princípio, apenas trabalha, função de provedor da família.

O café-da-manhã transcorre em silêncio, até mesmo porque, cada um tem seu horário e suas atividades. Geralmente, o filho mais novo senta-se à mesa com o pai e a mãe. A única expressão dita é "dormiu bem?". Cerca de quarenta minutos depois aparecem os outros dois irmãos, ambos calados, cada um com seu fone de volume máximo no ouvido. Por fim, a mãe observa as empregadas retirarem a mesa enquanto os filhos se encaminham à escola, já que o marido há muito saiu para o trabalho.

Durante a manhã a mãe apenas observa os serviços das empregadas e vai para a academia, às vezes lê e, um dia na semana, vai ao salão. Os filhos estudam, ou, quase todos, já que o mais velho  vive em um mundo paralelo que não o permite concentrar-se nos estudos. O marido trabalha.

Na hora do almoço todos voltam, menos o marido. O filho mais novo não para de conversar, o do meio ouve e o mais velho almoça no quarto, enquanto isso, a mãe sorri. O marido almoça em restaurantes próximos ao trabalho, nunca lhe falta companhia.

A tarde todos têm atividades a serem realizadas. O filho mais novo vai para a natação. O filho do meio vai ao curso de línguas. O filho mais velho sai para andar de bicicleta pelas ruas. A mãe não fica em casa.

Chega a noite, e com ela os jantares beneficentes, visitas, festas de bodas e aniversários, que são compromissos que aparecem quase todos os dias, afinal, a família Albuquerque possui muitos contatos. Apresentam-se sorrindo, felizes, educados, comunicativos, sinônimo de família perfeita para a maioria.

Só faltam algumas observações sobre a família Albuquerque. O marido trai. A mãe usa as tardes para ir ao psiquiatra, renovar a receita dos remédios controlados. O filho mais velho é viciado. O filho do meio tem depressão. O filho mais novo é o único que sabe de tudo isso.

Os Albuquerques formam uma família feliz, mas vivem de aparências.

"Porque não nos recomendamos outra vez a vós; mas damo-vos ocasião de vos gloriardes de nós, para que tenhais que responder aos que se gloriam na aparência e não no coração".(2 Coríntios 5:12)
"Tendo aparência de piedade, mas negando a eficácia dela. Destes afasta-te". (2 Timóteo 3:5)
"E, olhando o filisteu, e vendo a Davi, o desprezou, porquanto era moço, ruivo, e de gentil aspecto". (1 Samuel 17:42)

quinta-feira, 5 de julho de 2012

Caibo, talvez



"Sou composta por urgências: 
minhas alegrias são intensas; 
minhas tristezas, absolutas. 
Entupo-me de ausências,
Esvazio-me de excessos. 
Eu não caibo no estreito, 
eu só vivo nos extremos.

Pouco não me serve, 
médio não me satisfaz,
metades nunca foram meu forte! 

Todos os grandes e pequenos momentos,
feitos com amor e com carinho,
são pra mim recordações eternas.
Palavras até me conquistam temporariamente...
Mas atitudes me perdem ou me ganham para sempre.

Suponho que me entender 
não é uma questão de inteligência 
e sim de sentir, 
de entrar em contato...
Ou toca, ou não toca.”

(Atribuído à Clarice Lispector, mas ainda tenho minhas dúvidas quanto a isso, não encontrei nem mesmo o livro de referência...)

sábado, 30 de junho de 2012

Frágil

Hoje, percebi que meus amigos íntimos estão mais do que certos quando dizem que eu visto a máscara de forte mas no fundo sou tão frágil quanto uma borboleta tentando sair do casulo.



Ao longo da vida passamos por inúmeros momentos, os quais, muitas vezes, nos fazem criar uma máscara para não passarmos a real expressão que há em nosso interior. Isso pode ser bom, ou não. Só depende de nós sabermos administrar nossos sentimentos, como também aprendermos a discernir entre o que é máscara e o que é verdadeiro, o que devemos mostrar e o que devemos esconder, e quando. Não significa que somos falsos ou fracos, significa apenas que mesmo inconscientemente encontramos algumas maneiras de fuga do que não nos é conveniente.

Com certeza alguns acontecimentos me fizeram "inventar" essa máscara de "sou forte" - desde a infância - e outros contribuíram para que ela continuasse - ainda há 5 minutos. Posso dizer que ela já me livrou de constrangimentos e simultaneamente me deu força, ao contrário, já me fez magoar outras pessoas, sofrer interiormente sem entender ao certo o porquê. As máscaras não são construídas sem motivos bem embasados, contudo, também não são sustentadas se não houverem outras fortes justificativas.

Acima de tudo, o problema está no quanto nos escondemos por detrás dessas máscaras. Por vezes, eu sentia que o fardo era maior do que eu poderia carregar, e mesmo assim continuava com aquela cara de "sorria e acene" para todos a minha volta. Agora, me pergunto: qual a necessidade de agir assim? Sinceramente, não sei. Tudo não passa de mistérios da vida, do nosso cérebro, nosso maior protetor (junto de Deus, para pessoas, que assim como eu, ainda creem). Por mais que estivesse sofrendo, poucas eram as pessoas que reparavam os sinais de que algo estava errado comigo. Mesmo assim, eu continuava a sustentar não só as minhas dores, como também as dores de todo o mundo. Sabe aquela frase que quando um amigo chama, você esconde sua dor e para para ouvir a dele? Sempre agi assim, e poucas vezes eu era o amigo que chamava. Tanto fora quanto dentro de casa, tanto entre amigos e desconhecidos quanto entre familiares, sempre foi assim, até eu desabar. Aos poucos, mas desabei. Extrapolei e liberei todos os sentimentos que estavam adormecidos ou guardados lá no fundo, e assim, por vezes, exagerei como não devia. Fiz terapia e aprendi um pouco mais a lidar com essas máscaras enrustidas de falsos sentimentos, passando a ideia de "falsos eu" ao mundo a minha volta. E, digo com conhecimento de causa, não é nada fácil aceitar nossos sentimentos mais profundos e verdadeiros, até mesmo porque, já estamos acostumados e treinados com as máscaras, elas nos parecem tão fáceis de serem usadas, trocadas, amenizam tão bem as dores... Porém, nunca paramos para pensar até que ponto isso nos é saudável. Descobri que momentaneamente ela cura, no entanto, é uma cura muito superficial, uma fina crosta irregular, que a qualquer momento pode ser arrancada e sinalizar algo mais profundo e doloroso.

Foi só quando um amigo me disse: "havia tempos que não te via tão frágil", que eu percebi que aprendi bastante coisa nesse meio tempo. Descobri que aos poucos estou conseguindo abdicar da minha máscara de "sou forte" e, ao mesmo tempo, aceitando que os outros cuidem de mim, não só eu deles, que eles me acolham, me abracem, e demonstrem o afeto que existe dentro de nossos corações. Ou seja, o treinamento tem surtido efeito, também estou aprendendo a receber os sentimentos. E isso é bom, o calor humano, mesmo que expressado através de um telefonema, é de grande efeito para uma alma sedenta por atenção, acolhimento, compreensão e carinho.

Descobri que não é errado aceitar e assumir o fato de sentirmos algo, principalmente, de nos sentirmos frágeis, afinal, qual ser humano nunca passou por momentos assim? E, como uma borboleta, podemos, aos poucos, por etapas e com o apoio de outros componentes, chegar aos nossos objetivos, conseguir sobreviver e voar livremente, com uma verdadeira estampa no rosto, que pode ser colorida, ou não, entretanto, sempre verdadeira, desde que estejamos de bem conosco e com o mundo. Se hoje chorei, mesmo por motivo que não merecia uma lágrima sequer ou apenas bobo, é porque algum sentimento havia dentro de mim, e a forma que encontrou de se/me libertar foi a lágrima, que na sua forma mais genuína e sublime me fez entender alguma das transformações que vêm ocorrendo com o bater de asas da borboleta.

Enfim, é melhor parar por aqui, antes que os sentimentos aflorem demasiado e o texto torne-se mais pessoal do que já está e prolongue-se por longas páginas. Mais uma vez, uso a escrita como uma válvula de escape ou maneira de organizar meus pensamentos, agora, só espero que vocês o recebam de braços abertos e, por que não, troquem um pouco de experiências, pois é assim que vamos crescendo, e sempre é tempo de crescer, sempre é tempo de mais uma borboleta sair do casulo!









domingo, 24 de junho de 2012

Novos horizontes

Em praticamente um semestre fiz tantas descobertas que seria incapaz de transcrevê-las em poucas linhas. Descobri mais sobre o mundo e, principalmente, sobre mim. Percebi que nada acontece do dia para a noite, que cada decisão deve ser feita com todo o cuidado necessário e que muitos acontecimentos têm motivos para assim o serem, por mais que nos faça sofrer ou que acreditamos serem meras coincidências ou, ainda, que imaginemos ser ações do destino.

Não é fácil sair da nossa zona de conforto e partir rumo a experiências totalmente desconhecidas, como também não é bom seguir sempre pelos mesmos caminhos e não promover mudanças em nossas vidas. Nesse meio tempo aprendi o quanto é bom fazermos transformações, nem que seja no corte de cabelo, no estilo de roupa, ou, que seja, uma mudança para a vida inteira.

Sair de casa, por exemplo, é para muitos sinônimo de liberdade, mas será mesmo? Creio que é o contrário, nos tornamos mais presos do que antes. Quando se é jovem, tem-se muitas expectativas - e ilusões - em relação aos sonhados 18 anos de idade, ao momento de entrar para a faculdade e por aí vai, porém, não dos damos conta de que 18 anos não passa de uma idade simbólica de tempos passados, ainda mais se acompanhados da entrada na faculdade, até mesmo porque, a maioria dos jovens de classe média à alta não precisam trabalhar para se sustentarem, e assim, continuam dependendo dos pais. Outro fator importante, que mostra que ainda mantemos laços com o que deixamos para trás e não estamos nem um pouco livres, é a saudade, que aos poucos vai nos corroendo por dentro, apertando o coração e nos deixando engasgado com músicas e fotos icônicas. Entretanto, o cordão umbilical é cortado de vez e, para muitos, repentinamente - diferente do meu caso, que foi aos poucos, primeiro uma distância de 170km, com caronas praticamente diárias caso eu quisesse e familiares espalhados por toda a cidade, agora, uma distância de aproximadamente 950km, sem caronas e nem mesmo conhecidos na mesma cidade, é...pensando melhor, acho que a minha também foi um pouco repentina, só que de outra forma e já com outros pensamentos e um pouco mais de bagagem de vida, aprendizados.

Querendo ou não, ao sair de casa valorizamos mais nossa família, nossos amigos e todas as histórias que já vivemos e iremos viver. Aprendemos muito mais do que se permanecêssemos no mesmo lugar sempre, estáticos, sem ação, até mesmo porque, a maioria das histórias vivenciadas por nós, são frutos de atitudes - mais marcantes caso verdadeiras.

Além disso, amadurecemos. Mais do que somente amadurecimento, nos desenvolvemos através de responsabilidades antes não delegadas a nós, agora temos que saber equilibrar as finanças de forma que não passemos fome (mesmo que tenhamos que comer macarrão instantâneo às vezes) e também possamos nos divertir (nem que seja tomar um açaí com os amigos no final da tarde), temos que aprender a arte de equilibrar o tempo a fim de conseguir arrumar a casa, cozinhar, estudar todas as matérias e ainda dar uma saidinha no final de semana. Não posso me esquecer de um ponto primordial: saber conviver com pessoas de todos os cantos do Brasil - com as mais variadas características e criações - e com a pessoa com a qual você divide o apartamento. Porém, vou com calma, afinal, ainda não cheguei ao internato para saber como é conciliar tudo isso e ainda permanecer grande parte do tempo no hospital, subordinada a grandes profissionais e lidando com inúmeras vidas diariamente. Enfim, mais do que amadurecimento, é chegada a hora de nos tornarmos verdadeiros adultos, sair debaixo das asas dos pais e partir para o mundo com a incumbência de mostrar a todos tudo o que nossos pais nos ensinaram - e ensinam - ao londo dos anos, além do verdadeiro ser que somos/estamos construindo. Na realidade, alguns nem se importam com essa minha última opinião, talvez seja o tipo de criação, quem sabe a própria personalidade do indivíduo...mas isso fica para outro dia!

Permito-me concluir que sair de casa nos traz mais pontos positivos do que negativos, só devemos reconhecer o momento e a maneira certa para que essa atitude seja tomada, obviamente, de acordo com as opiniões dos pais. Talvez eu tenha esse pensamento porque já nasci com um instinto de liberdade e independência mais aguçado e, também, por ter ido morar fora da casa dos meus pais com 14 anos de idade recém-completados. De uma forma ou de outra, aprendi muito ao longo desses anos morando apenas nas férias com meus pais (desde o início de 2007). Obviamente, já "quebrei a cara" algumas vezes por imaturidade, já passei por crises existenciais e sentimentais, já deixei várias coisas para fazer de última hora - matando meus pais de raiva e preocupação, diga-se de passagem -, já sofri demasiado com a saudade e a falta de controle sobre meus sentimentos, já esqueci de coisas que não deveria - mais uma vez, deixando meus pais bastante irritados, e a mim também -, já tive que fazer muitas abdicações em prol de sonhos e objetivos, já deixei de sair para me divertir a fim de economizar, já fiz estrepolias e sofri consequências - algumas drásticas, por sinal -, já me estressei e irritei, xinguei e discuti por falta de aprendizagem de convivência, já gastei o dinheiro que não tinha por falta de controle ou capacidade de economia - embora eu realmente seja uma pessoa pão dura, extremamente poupadora -, e, acima de tudo, a maior certeza de todas: já deixei/e ainda deixo meus pais preocupados. Pois também aprendi que meus pais serão para sempre meus pais, de amor incondicional e com as mesmas preocupações desde quando me entendo por gente, daqueles que passarão a vida inteira te fazendo recomendações, como esse dias para trás, ao avisá-los de que estava saindo e começarem a dizer todo o discurso: "com quem você vai? (levando em consideração que nessa nova cidade eles não conhecem ninguém, mas sempre pedem as fichas completas), cuidado com as bebidas, não aceite nada de estranhos, qualquer coisa volta de táxi, quando chegar em casa liga - não manda mensagem porque pode demorar ou não chegar"...e por aí vai...ou seja, nossos pais serão para sempre nossos pais! Lamentavelmente, muitos não entendem isso, e acham que só porque não moram mais com eles não devem satisfações, respeito, honra. Sendo assim, pelo menos no início, alguns se rebelam, acham que são os donos do mundo, da verdade e da vida, e só com o passar do tempo descobrem que não funciona dessa maneira, pena que podem tê-los magoados inúmeras vezes ou descobrem de maneiras drásticas, as quais poderiam ter sido evitadas.

E assim, aquela menina nascida no interior de Goiás, mora hoje numa metrópole, na capital mineira. E, aos poucos, vai aprendendo e tentando absorver tudo o que o mundo pode lhe oferecer, sem deixar de ser quem é, sem esquecer de suas raízes ou dos ensinamentos adquiridos ao longo das experiências vividas - mesmo que poucas! -, afinal isso tem grandes contribuições para a mulher na qual está se transformando. A cada mudança, novos horizontes surgem, a visão se amplia e o mundo transcende lhe mostrando tudo aquilo que um dia sonhou e que a alma almeja para se completar. A cada passo, uma conquista, uma somatória e, simultaneamente, uma subtração, mas que fique claro: soma-se o útil e subtrai-se o inútil. E é dessa forma que eu tenho tentado viver: de maneira exponencial - ampliando tudo e aumentando os valores.

Belo Horizonte, MG



sexta-feira, 22 de junho de 2012

Onde andará o meu doutor?

Hoje, irei apenas compartilhar uma poesia encontrada em uma página de relacionamento que me deixou estarrecida, principalmente por corresponder a nossa lamentável realidade...
Sinceramente, estamos vivendo em um mundo de doentes!

Onde andará o meu doutor?
Tatiana Bruscky

Hoje acordei sentindo uma dorzinha,
aquela dor sem explicação, e uma palpitação,
resolvi procurar um doutor,
fui divagando pelo caminho...
lembrei daquele médico que me atendia vestido de branco
e que para mim tinha um pouco de pai, de amigo e de anjo...
o Meu Doutor que curava a minha dor,
não apenas a do meu corpo mas a da minha alma,
que me transmitia paz e calma!

Chegando à recepção do consultório,
fui atendida com uma pergunta:
“Qual o seu plano? “
Ah, o meu plano é viver mais e feliz!
é dar sorrisos, aquecer os que sentem frio
e preencher esse vazio que sinto agora!
Mas a resposta teria que ser outra...o meu plano de saúde!

Apresentei o documento do dito cujo
já meio suado, tanto quanto o meu bolso, e aguardei...
Quando fui chamada corri apressada,
ia ser atendida pelo Doutor,
aquele que cura qualquer tipo de dor,
entrei e o olhei, me surpreendi,
rosto trancado, triste e cansado...
será que ele estava adoentado?
é, quem sabe, talvez gripado
não tinha um semblante alegre,
provavelmente devido à febre...
dei um sorriso meio de lado e um bom dia...
Sobre a mesa, à sua frente,
um computador,
e no seu semblante a sua dor,
o que fizeram com o Doutor?

Quando ouvi a sua voz de repente:
O que a senhora sente?
Como eu gostaria de saber o que ELE estava sentindo...
parecia mais doente do que eu, a paciente...
Eu? ah! sinto uma dorzinha na barriga e uma palpitação
e esperei a sua reação,
vai me examinar, escutar a minha voz
auscultar o meu coração...
para minha surpresa apenas me entregou uma requisição e disse:
“peça autorização desses exames para conseguir a realização”...
quando li quase morri...

Tomografia computatorizada, ressonância magnética e cintilografia !

ai, meu Deus! que agonia!
eu só conhecia uma tal de abreugrafia...
só sabia o que era ressonar (dormir),
de magnético eu conhecia um olhar...
e cintilar só o das estrelas!
estaria eu à beira da morte? de ir para o céu?
iria morrer assim ao léu?
naquele instante timidamente pensei em falar:
terá o senhor uma amostra grátis
de calor humano para aquecer esse meu frio?
que fazer com essa sensação de vazio? e observe, Doutor,
o tal Pai da Medicina, o grego Hipócrates, acreditava que
A ARTE DA MEDICINA ESTAVA EM OBSERVAR.
Olhe para mim...
bem verdade que o juramento dele está ultrapassado!
médico não é sacerdote...
tem família e todos os problemas inerentes ao ser humano...
mas, por favor, me olhe, ouça a minha história!
preciso que o senhor me escute, ausculte
e examine!

Estou sentindo falta de dizer até aquele 33!
não me abandone assim de uma vez!
procure os sinais da minha doença e cultive a minha esperança!
alimente a minha mente e o meu coração...
me dê, ao menos, uma explicação!
O senhor não se informou se eu ando descalça... ando sim!
gosto de pisar na areia e seguir em frente
deixando as minhas pegadas pelas estradas da vida,
estarei errada?
ou estarei com o verme do amarelão?
existirá umas gotinhas de solução?

Será que já existe vacina contra o tédio?
ou não terá remédio?
que falta o senhor me faz, meu antigo Doutor!
cadê o Sccot, aquele da Emulsão?
que tinha um gosto horrível mas me deixava forte
que nem um Sansão!
e o Elixir? Paregórico e categórico,
e o chazinho de cidreira,
que me deixava a sorrir sem tonteiras?
será que pensei asneiras?
Ah! meu querido e adoentado Doutor!
sinto saudades
dos seus ouvidos para me escutar,
das suas mãos para me examinar,
do seu olhar compreensivo e amigo...
do seu pensar...
o seu sorriso que aliviava a minha dor...
que me dava forças para lutar contra a doença...
e que estimulava a minha saúde e a minha crença...
sairei daqui para um ataúde?
preciso viver e ter saúde!
por favor, me ajude!

Oh! meu Deus, cuide do meu médico e de mim,
caso contrário chegaremos ao fim...
porque da consulta só restou uma requisição
digitada em um computador
e o olhar vago e cansado do Doutor!
precisamos urgente dos nossos médicos amigos,
a medicina agoniza...
ouço até os seus gemidos...

Por favor, tragam de volta o meu Doutor!
estamos todos doentes e sentindo dor...
e peço, para o ser humano, uma receita de calor,
e para o exercício da medicina uma prescrição de amor!

Por fim, recomendo que assistam ao filme Patch Adams - O amor é contagioso. Muitos já devem ter visto, mas é sempre bom rever para refletirmos um pouco mais sobre nossas ações em prol do bem estar do lugar onde vivemos, das pessoas com as quais convivemos ou não e para a construção do mundo que queremos. Também recomendo que assistam à entrevista do "verdadeiro" Patch ao programa Roda Viva da TV Cultura, a qual está disponível no You Tube.