Estava organizando meus pensamentos para saber ao certo o que escrever, o que pontuar e, principalmente, como criticar. No início tentei me desvencilhar desse assunto que me tormenta e traz más lembranças, entretanto, tornou-se indispensável falar sobre ele, o célebre ENEM (Exame Nacional do Ensino Médio). (Detalhe: estou revoltada, portanto, texto com alta carga de ironia, humor negro, criticidade e falta de paciência.)
Nos dias 06 e 07 de novembro de 2010 foram realizadas 4 provas, cada uma contendo – ao menos era pra ser assim – 45 questões. Ciências da Natureza e suas Tecnologias, Ciências Humanas e suas Tecnologias, Linguagens, Códigos e suas Tecnologias, Matemática e suas Tecnologias, mais a prova de Redação. O Brasil inteiro ficou alerta nos dias em que muitos estudantes estavam decidindo suas vidas. O futuro dessas vidas e, de certa forma, da nação, em evidência nas provas a se realizar. É lamentável apenas que um dos que mais deveriam estar interessados na qualidade das mãos-de-obra que serão formadas, tenha tido desatenções ao longo do planejamento dessa prova gigantesca, o governo e os que fazem acontecer essa “idéia”.
Era de se esperar que tudo fosse transcorrer às mil maravilhas, uma vez que em 2009 o modelo usado foi o mesmo e, geralmente, os erros cometidos no passado servem para que sejam corrigidos no futuro e não voltem a ocorrer. Mas, no Brasil em que vivemos e desde que o conhecemos, sabemos que as coisas não funcionam como deveriam. Eu e alguns amigos fizemos o ENEM em 2009 e em 2010 e a conclusão da maioria é que realmente o Brasil ainda tem muito a melhorar, e também vale lembrar que para muitos, o de 2009 foi mais positivo que de 2010, mesmo com o fato do roubo das provas. Por quê? Talvez seja porque em 2009 não vimos de modo tão descarado a má realização das provas e o mau treinamento dos fiscais como nesse último ano. Ou, então, pelo fato de estarmos mais preparados, alertas e experientes no quesito realização de vestibulares Brasil afora.
E daí se concorrentes usaram relógios? Quem se importa com o uso de lápis e borracha permitido a alguns e a outros não? O que tem alguém usar o celular dentro da sala, conversar normalmente e o fiscal apenas pedir para que desligasse e guardasse? Qual o problema de os fiscais não passarem informações corretas, não seguirem o edital e muito menos dar apoio aos estudantes? O que há de errado em vazar conteúdo das provas, tema de redação? Para quê levar identidade, para quê ser identificado se alguns fizeram sem ela? Não é verdade que a prova de matemática não precisa de rascunho e a de humanas sim? De que adianta provas bem feitas, com datas corretas, se não interfere na resposta, se os alunos errarão ou acertarão do mesmo jeito? Afinal, para quê edital se não precisa necessariamente ser seguido? Por que se preocupar com tudo isso? Assim foi a realização do ENEM 2010. Essa foi a importância dada, aos fatos e relatos de desigualdade, pelo alto escalão do governo, através do MEC, INEP e Ministério da Educação: nada de errado, tudo normal, nada que modificar, a educação “melhorou muito”, estamos de parabéns – pois eu digo: parabéns sim, pela incompetência! Com toda a certeza, eles desconhecem que são os erros de aplicação os que mais causam transtornos, alguns podem até serem considerados erros "pequenos", mas se somados tornam-se grandes "inimigos" de quem está tentando fazer uma boa prova em busca de uma vaga numa universidade federal para um dos cursos mais concorridos. Sem contar que erros acabam com a confiança na prova, abaixa mais ainda o nível da mesma, humilham o intelecto dos estudantes que se preparam para àquele momento, praticamente jogam no lixo anos de esforço e estudo, com direito a “sangue, suor e lágrimas”.
Para completar, diante de tais ocorrências, totalmente verídicas, ainda teve quem defendesse e dissesse que tudo não passava de “tempestade em copo d’água”. Vou ser sincera, fiquei puta de raiva dessa gente de pensamento pequeno, hipócritas e medíocres. Falam isso porque não tiveram que passar por tudo que nós, estudantes, passamos, porque não tem o seu futuro “em risco”, em “zona de perigo” por falta de atitude, por falta de competência de quem comanda essa prova, porque não tem o futuro nas mãos de poucos que nem se importam com você e muito menos sabem da sua existência e de tudo o que você passa até chegar esse momento e durante esse momento.
Vale ressaltar o modo de correção das provas, o método TRI, que segundo Fernando Haddad coloca todos em situação de igualdade, que evita os chutes e etc. Então, caro Haddad, por favor, me explique como alguém que erra somente 6 das 45 questões na prova de Linguagens tira uma nota absurdamente baixa, de 700 e poucos, e, ao contrário, quem erra mais tira uma nota maior que essa? Sem que nenhum dos 2 comparados chutasse a prova, e ambos, de certa forma, possuem o mesmo nível de conhecimento? Queria saber se quem fecha a prova tira menos de 1000, tem como? Tem muita gente que tem condições de fechar uma prova, e não é porque simplesmente chuta, até mesmo porque, não tem como depender de chutes para tirar boas notas e nem todo chute é certeiro, é somente por conta do conhecimento, adquirido com vários anos de estudo, que vocês, meus caros, não levam em consideração e desmerecem. Aí, nos aparece o caso da realização de novas provas. Lógico que ninguém queria arcar com as conseqüências desses erros, então “o TRI é um método de total igualdade”, mesmo que as provas sejam diferentes, que os enunciados sejam diferentes e o conteúdo seja diferente. Vem cá, me expliquem a diferença entre igualdade e equivalência, pode ser? 1+2 é uma coisa, 2+1 é outra totalmente diferente, cada um pensa de um jeito, para um, o primeiro modo pode ser mais fácil, para outro o segundo é mais fácil, e quem tem o direito de querer modificar isso – o fato de que cada cérebro enxerga as coisas de um jeito? Esse método não leva em conta que o que a maioria pode considerar fácil e acertar eu posso considerar difícil e errar, e assim, por essa questão, vou ter minha nota diminuída, mesmo que eu acerte o mesmo tanto no total bruto que outro candidato que acertou essa questão considerada “fácil”? O cérebro é único, exclusivo de cada um, sendo que cada um pensa de um jeito, tem um raciocínio, tem facilidade com aquilo e dificuldade com aquilo outro. Mas, lógico, governo é governo, Lula é Lula, no ápice de sua aceitação popular, no auge do seu governo, em fim de mandato, considerado um “ídolo” da história brasileira com direito a filme – que segundo eles nada tem a ver com política, “aham Cláudia, senta lá”, e Fernando Haddad é um ótimo Ministro, por dentro dos assuntos, educador, sábio, que toma ótimas decisões e melhorou demasiadamente nossa educação, tanto que continua lá, no Ministério, não é mesmo? Quem sou eu para criticá-los? De certo sou um simples alguém da oposição, alguém que luta contra o nosso desenvolvimento, ou melhor, uma conspiradora, que não merece a mínima atenção. Faça-me o favor né gente! Vamos acordar aê, porque se continuar assim fica difícil ter um futuro nesse país. Depois ainda ficam se perguntando por que os brasileiros do mais alto nível saem do país, por que fazem sucesso, tornam-se profissionais respeitados lá fora, comandam pesquisas importantíssimas enquanto aqui ninguém nunca ouviu falar, com uma população totalmente desinteressada em política, ciência, educação, apenas querendo comprar, comprar, comprar, ganhar, ganhar, ganhar e “subir na vida”. Meu Deus! Que país é esse? Como vamos melhorar se não tivermos educação de qualidade, como se “sobe na vida” sem saber ler, escrever e interpretar? Passem-me a receita que se for assim eu estou precisando urgente. Alguma coisa pode até ter melhorado, mas por enquanto, só sei de melhorias no salário de vocês, caros governantes.
Quanto aos que realizaram a “segunda prova”, nada a comentar, o que tinha para dizer acho que todos já compreenderam: uma total injustiça. Aí entra o detalhe dos presos e tal, e por que esses tais presos não podem realizar as provas nos mesmos dias que nós, reles mortais? Sinceramente, não vejo nenhum pingo de igualdade nessas provas, não é um segundo vestibular, é o mesmo vestibular, são os mesmos que concorrem com os que fizeram as provas nos dias 06 e 07. É claro que eles mereciam uma segunda prova, mas não é justo que só eles a recebessem. Ao meu ver, deveriam ter aberto para qualquer um que se sentisse prejudicado, automaticamente cancelando as primeiras provas. Desse modo, ninguém poderia reclamar posteriormente e haveria igualdade enquanto todos tiveram a chance de escolher entre refazer ou não.
De acordo com as correções que muitos andam reclamando, tenho a reclamar somente do método TRI, “só” isso, nada mais. Quanto às redações zeradas e etc., não vejo nada de mais, se o candidato não fez o que tinha que ser feito, não seguiu a risca as recomendações, não estava preparado, é certo que seja zerada, ao menos nesse quesito o edital foi seguido. Ah! Claro, a correção é feita por humanos normais, com a exceção de que tem conhecimento, sabem o que estão fazendo e as conseqüências dos seus atos.
Será que eu estou esquecendo de relatar mais alguma coisa? Há, sim, o SISU. Disseram que esse ano o site suportaria as milhares de entradas, sei disso porque participei do “bate-papo UOL” com uma repórter e um porta-voz. Até onde eu saiba passou longe, devido a minha desmotivação só fui tentar ontem de manhã por grande insistência dos meus pais – reconheço - e além de demorar um século para que abrisse a página consegui fazer só uma inscrição, a segunda ficou pra depois, nem sei se vai ter depois, mas ficou, por conta dos erros do site e da minha falta de paciência com tudo isso – concordemos, ninguém merece agüentar, não sou fantoche deles para que eles façam o que bem entendem. E os que estão isolados, prejudicados por motivos de força da natureza, vão ficar em desvantagem? Acho que agora o que eles estão pensando menos é sobre o SISU, perante aquela devastação, falta de água potável, comida, roupas, moradias. Mas o negócio é o seguinte, depois que passarem as 3 etapas do SISU eles não podem ter direito exclusivo de nova seleção, teria que haver mais uma etapa nacional até que a situação naqueles locais melhorem, para que ninguém saia prejudicado nessa história, nem eles, nem nós, saibam disso.
Acho absolutamente certo que entrem com processos contra o governo. Até mesmo passou pelas mentes aqui de casa essa possibilidade. Já passou da hora de alguém transformar essa realidade, acordar, se atentar e consertar o que tem de errado. Dilma está começando bem, colocando o povo para trabalhar, tirando um pouco das mordomias dos Srs. Ministros - sem levar em consideração alguns pontos negativos. Só espero que continue assim, que ela saiba o que fazer e olhe mais pela educação defasada que enfrentamos diariamente no Brasil. Como já disse, nós somos pessoas, gente, humanos, estudantes, que deram duro para conseguir realizar uma boa prova. No entanto, no “grande dia” dá tudo errado, sem termos culpa “no cartório”, mas nós pagamos o “pato”. Isso não está certo. Nós estamos, sim, submetidos ao governo, ao que eles aprontarem, fazerem ou deixarem de fazerem, só que não devemos, de forma alguma, agüentar calados, quietos, apenas assentir com a cabeça e ponto final. A vida não funciona assim, muito menos um país democrático, cujo lema é “Brasil, um país de todos”. Onde estão esses “todos” quando o Brasil precisa? Onde está a concretização desse lema? Onde está a “Ordem” e o “Progresso” na educação?
Resta-me saber apenas se depois de 2009 e 2010 ainda haverá ENEM no meio do ano. Será que vão ter competência para isso? Fica então mais uma dúvida, mais uma incerteza a martelar nas mentes dos jovens vestibulandos, que ainda tem esperança de melhoria da educação, melhoria do país que tanto amamos, fomos criados e vivemos. Esperança de um futuro melhor, que prioriza a educação, que dá importância à população, que leva em consideração os sonhos de cada jovem construtor desse país. Sei de uma coisa, a maioria dos brasileiros pode ter memória fraca, mas eu não, eu sei em quem votei, eu sei de quem cobrar, sei que a culpa não é só do governo, talvez seja mais da população apática, alienada, acomodada, egoísta e hipócrita, mas, de qualquer forma, não vou esquecer tão fácil assim desses acontecimentos determinantes para muitas vidas que estão apenas no seu início. Se eu pudesse, tivesse essa força, não deixaria que esses mesmos erros viessem nos acometer novamente, nenhum brasileiro merece passar por essa vergonha e humilhação.
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