segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Ainda sobre sonhos...

Ao ler o comentário do Marcio JR do úlitmo post: De fantasias a sonhos: o mundo do vestibulando... a respeito de que devemos "ter em mente que o sonho é algo extremamente necessário na vida de alguém", lembrei-me de uma redação que eu redigi esse ano no cursinho a respeito desse mesmo tema: sonhos e fantasias. Então, senti-me na obrigação de publicá-la aqui, na íntegra.

Tema: "Em que nível a fantasia deve intervir na vida humana?"
Modalidade textual: Carta Pessoal
Proposta: Como não sei onde se encontra a folha de proposta da redação, não tem como publicar aqui. Mas lembro-me que devíamos nos colocar na posição de um pai que mandaria a carta para o filho falando a respeito do tema indicado. Vale ressaltar que na proposta de redação também tem a coletânea de textos que devemos nos "inspirar", serve de apoio para nos mostrar o rumo do tema, etc...
Obs.: Nas cartas que produzimos em vestibular e concursos não devemos nos identeficar, portanto, fica sem assinatura.

Goiânia, 14 de março de 2010.

Amado filho,

Espero que esse seja verdadeiramente o melhor momento para a leitura desta carta. Imagino que já se conformou com a minha morte, acho até que deveria estar feliz pois, provavelmente, encontrei a Pasárgada dos meus devaneios. Sei o quanto deve estar confuso, ainda mais com as minhas graças até a beira da morte. Porém, é claro que não poderia deixar passar sem um dos meus objetivos finais, inclusive exercer meu papel de pai, ajudá-lo na compreensão do mundo e esclarer o meu mundo, bastante criticado, principalmente por você.
Confortam-me as lembranças da sua infãncia. Lembro-me perfeitamente das histórias que eu contava, inventadas por mim ou não, a você e seu irmão. Misturas de fantasia e realidade que vocês adoravam e "viajavam" comigo sem precisar de grande esforço, pelo menos até sua mãe nos chamar e libertar do mundo fantástico a que éramos submetidos por nossa imaginação. Filho, a cada dia percebo o quanto é semelhante a sua mãe. Isso é bom, porque, na verdade, era sempre ela que me "acordava para a vida", talves esse era o segredo da nossa relação, eu e meu mundo de fantasias mantínhamos a levesa e a alegria da casa, e ela, muito séria e pragmática não me deixava esquecer das obrigações reais, assim, nossos mundos se misturavam e entravam em perfeita harmonia.
Os primeiros momentos após a descoberta do meu câncer foram difíceis de serem vividos. Só tenho a agradecer a você e toda a família pela força que irradiava de vocês e me fazia sobreviver. No entanto, o mundo isolado na minha mente também contribuiu, se não fosse ele a angústia teria me dominado. Esse mundo paralelo era um refúgio à realidade, nele tudo era belo, a dor e o sofrimento não existiam. Confesso que por diversas vezes confundi o mundo real com o imaginário e, você, me condenava. Aonde está aquela criança alegre e apaixonada pelas estórias inventadas? Gostaria que compreendesse que às vezes não custa fantasiar a realidade, já que ajuda um pouco a viver.
O equilíbrio é o objetivo de todos, e, ao mesmo tempo, é o que nos faz alcançá-lo. Querido, você deve aprender a fantasiar em algumas circunstâncias. Com certeza não quero um filho alheio ao mundo que o cerca, estagnado e alienado. Mas também não quero que sofra demasiadamente com a realidade. Se existe uma forma "simples e barata" de diminuir a aflição, por que não usufruir da mesma?
Deixo claro que nas condições em que o mundo se encontra não podemos viver somente de fantasias. Pelo contrário, a população em geral deve estar atenta aos políticos e suas ações. O meio político está tão doente quanto eu. São mentiras, promessas não cumpridas, roubos e descaso, preocupados apenas em angariar votos inúmeros políticos contaminam nosso país da pior maneira possível e mancham a história.
Acredito, meu caro, que já descobriu a pequena diferença entre sonho e fantasia. Sonho é o que almejamos e lutamos para que torne realidade, ele nos impulsiona e estimula a vida. Sonho é o que todos tem dentro de si, mas, alguns, diante das dificuldades enfrentadas na luta pela sobrevivência transformam os sonhos em fantasias. É preciso que haja um heroi dentro de cada um de nós, pronto para agir, que acredita no potencial humano e tem força de vontade para ajudar os necessitados. Desse modo, os super homens, hércules, homens-aranha e "batmans" devem sair do plano das ideias e participarem do plano real com ajudas humanitárias.
Querido filho, é necessária a distinção entre o momento certo de cada plano entrar em ação e assim construir a hitória da sua vida. Na busca pela realização dos sonhos e da felicidade a fantasia deve ter seu espaço, sem dominá-lo ou atrapalhar seu amadurecimento e muito menos ofuscar sua visão de mundo. Para mim as fantasias foram uma maneira de viver e, simultaneamente,  produzir meus poemas marcados pela idealização ao modo romântico. Para você ela deve dar mais levesa, suavidade e humor. Não dá para viver sempre rabugento e sem ideais. Ressalto que voltar a ser criança, às vezes, não faz mal. Cuide-se. Sonhe. Fantasie. Realize. Viva. Progrida. Lembre-se sempre de mim e construa sua própria Pasárgada em vida. Um forte abraço e enorme beijo.

Do seu pai que muito o ama,

5 comentários:

  1. Antes de mais nada, adorei ver meu nome no topo desta crônica... rsrs.

    Comentar seus textos não é uma tarefa muito fácil, pois seu poder de argumentação é muito grande, e resta pouquíssimo para ser contestado (se é que resta algo). E nada melhor do que debater um tema com quem realmente tem argumentos e sabe do que está falando.

    Faz pouco tempo, analisei o abandono do mito do Papai Noel. Alguns me criticaram por defender a continuação desse mito e por eu achar que é importante que uma criança cresça acreditando no Bom Velhinho. Alguns utilizaram uma desculpa religiosa, enquanto outros mostraram um materialismo premente. Mas, independente de qualquer argumento, penso que não se pode matar as poucas fantasias que temos no coração. Crescer num mundo materialista só faz prejudicar uma pessoa, pois transforma seu caráter em algo seco e imediatista, sem nenhuma magia (aquela que nos faz ter esperanças num mundo melhor, num mundo ideal). E matar o Papai Noel no coração de uma criança, é jogá-la desde cedo no mundo consumista.

    Todo adulto tem uma criança guardada no peito, e essa criança precisa ser alimentada de fantasias, as boas fantasias. E deve ser dado vazão para essa criança sempre que possível. Ou então, a vida se tornará extremamente chata, e convite para a depressão estará sempre na porta.

    Mais um comentário quilométrico, mas você é a culpada Letícia. Quem manda postar temas propícios.

    Abraços.

    Marcio

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  2. Não pude perder essa chance, fico feliz que tenha gostado!
    Sim, eu tento estar atualizada, formar minhas opiniões, ler e debater sobre todos os assuntos possíveis e passíveis de argumentação e ponto de vistas variados.
    Concordo com você no que diz respeito ao mito do Papai Noel, como escrevo no texto, acredito que todos devem ter suas fantasias, seus sonhos, pois eles dão mais brilho a vida, te movem pelos caminhos mais tortuosos, te dão forças - experiência própria. E esse é o lado ruim do capitalismo, que gira em torno do mercado, do consumo e não se importa com o bem estar, com a condição de vida das pessoas, infelizmente. É preciso que as famílias sejam bem estruturadas, formadas, esclarecidas, equilibradas, para que crianças cresçam e se desenvolvam num ambiente favorável aos bons modos e costumes, e sejam adultos aptos a viver em sociedade e de sabedoria de vida.
    Reitero que todos tem o livre direito de sonhar e fantasiar, desde que na qualidade, quantidade e momentos certos.
    Que isso, meus textos quilométricos e assuntos instigantes levam a comentários também assim. Eu compreendo e fico feliz que assim o seja.
    A minha resposta também ficou quilométrica...rs
    Abraços.

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  3. Letícia,

    Cheguei aqui por intermédio do Marcio, e constato com meus próprios olhos o seu talento para escrita,
    essa redação está sensacional e irretocável!
    Que inspiração, menina!!

    Excelente! Voltarei mais vezes, pode estar certa disso!

    um abraço carinhoso!!

    Ξ ѕ t є я

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  4. Letícia comentei para o Marcio Jr, sobre você e vou compartilhar:

    Letícia merece ser divulgada, está vivendo uma situação muito específica, o mundo do vestibulando. Época extrema, ela coloca com um olhar crítico de quem vive a situação. Quantas pessoas vivem esse drama? Poucas têm a condição de relatar.
    Faz “profundas reflexões” sobre o Enem, vestibular, questiona sua vocação pela medicina. Creio é tudo que a moçada, gostaria de ouvir.

    Marcio você tem um fino faro para descobrir talentos. Ela é encantadora, com sua prosa e anseios. Fala de muitas coisas, que ando pensando, e até creio isso tudo ser parte da memória coletiva ancestral que aflora. Existe individualidade?
    O mundo mágico de Letícia é um paralelo com as “Crônicas de Nármia”, Bandeira cantava “Vou-me embora para Pasárgada”, eu vou para Zambukaki. São Brandão o Navegador, monge irlandês, por volta de 512 e 530, foi para o HY-BREZIL buscando a terra abençoada.
    Os índios guaranis até hoje procuram a Terra Sem Males. Letícia soma, multiplica esses vetores. Como você situou bem ela faz a catarse.

    Abraços

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  5. É pelo visto o Marcio fez uma ótima propaganda minha, rs
    Obrigada Ester! E volte sempre que quiser sim, seja sempre bem vinda! Vou tentar agradar a todos ao máximo!
    Obrigada também a você Hugo! Nossa, já estão até discutindo sobre mim em suas conversas? É, tenho que fazer jus ao meu nome agora, rsrs Obrigada por todos os elogios e pelo comentário gratificante!
    Fico feliz e lisonjeada com tantos comentários bons, edificantes, construtivos como esses, vou sempre procurar crescer e melhorar ainda mais, podem esperar!
    Abraços...
    Letícia Cunha!

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Então, o quê você me diz?