domingo, 3 de abril de 2011

Somos todos VIPS?

Consequência de uma pausa...

Sábado passado tive o prazer de ir ao cinema e assistir ao filme VIPS (Mais informações - site oficial). Um filme nacional, com Wagner Moura como protagonista, direção de Toniko Melo e baseado no livro “VIPS – Histórias Reais de um Mentiroso” escrito por Mariana Caltabiano. Perdi os minutos iniciais do filme, mas deu para acompanhar normalmente. O final é simplesmente surpreendente, ficam todos olhando uns para os outros e se perguntando "uai, acabou?", "como assim?", "não, calma aí..." e tentando entender (ainda mais que sábado passado foi o dia da “Hora do Planeta” e as luzes ao fim da sessão não foram acesas!). Portanto, mais uma dica minha para essa semana, esse, sem sombra de dúvidas, é um filme que todos deveriam assistir, corram, ainda está nos cinemas, e, vale muito a pena!

Bom, vou tentar não contar muito as cenas do filme, caso alguém que esteja lendo ainda não tenha assistido, e também tentarei não contar o final, o que é extremamente difícil, rs. Mas, posto aqui a sinopse do filme: Desde pequeno, Marcelo Nascimento da Rocha tem muita dificuldade de viver com sua identidade. Seu maior prazer é imitar as pessoas e se passar pelos outros. Alimentando o sonho de aprender a voar e tornar-se piloto como o pai, Marcelo foge da casa da mãe e começa a maior aventura de sua vida, cada vez se passando por uma pessoa diferente. Até dar o maior golpe de sua vida: fazer-se passar pelo empresário Henrique Constantino, filho do dono da companhia aérea Gol, em uma grande festa no Recife.

O filme faz uma análise da crise de identidades que estamos vivenciando no mundo atual. Embora pareça uma frase e um tema clichê é muito interessante. É um exemplo da inversão e deturpação de valores da sociedade atual, como também das patologias mentais que afetam muita gente mundo afora. Fala sobre aquele tema que eu já citei no post intitulado "Abandono", o qual a pessoa habitua-se a mentir e com o tempo ela mesma começa a acreditar nas próprias mentiras. Fala sobre aquela busca eterna pelo "meu eu", pela verdadeira identidade.

Eu sei muito bem que não é fácil “descobrir-se”, até mesmo porque, todos os dias, passamos por inúmeras situações, muitas dessas inusitadas, novas, que nos proporcionam chances de autoconhecimento. Como já disse Clarice Lispector: “Sou sempre eu mesma, mas com certeza não serei a mesma para sempre...”, ou, “Sou como você me vê, posso ser leve como uma brisa ou forte como uma ventania, depende de como e quando você me vê passar”. Ao nascermos somos completamente influenciados pela nossa família, pelas pessoas que nos cercam. Inclusive nossa voz depende das pessoas com quem crescemos e o modo como elas se comunicavam conosco. Desse modo, nossa identidade e a maneira como nos vemos também dependem dos outros. No mundo de vestibulandos em que vivo conheço pessoas que dizem prestar vestibular para tal curso somente porque é imposição dos pais, e seus olhos brilham quando falam nos cursos que realmente desejariam fazer. Essa é uma inversão, é uma fuga do que realmente se é. Acredito muito em vocação, é impossível uma pessoa ser feliz e fazer bem seu trabalho caso não goste dele. Portanto, pessoas como essas que eu conheço, que sempre tem alguém para dizer como ser, como agir, e esses “comos” são sempre diferentes do que o interior da pessoa gostaria de ser e agir, serão frustradas, correrão sérios riscos de adquirir doenças e se dar mal na vida. Mais uma vez mostro a importância da família na formação de um indivíduo, ah se todos tivessem consciência disso!

Em VIPS, o Marcelo (Wagner Moura), encanta-se pela atividade do pai, mas, ao contrário de casos da vida real, seus pais não o obrigam a gostar de aviação. É inerente a ele essa vontade de voar, pilotar aviões, conhecer lugares, fazer carreira nessa área. Entretanto, frustrações, fracassos e dificuldades surgem na sua trajetória de vida, mudam seu rumo e tornam a realização desse sonho quase impossível. Já que, no fundo, ele nunca será como seu pai. Aquela máxima de que mostramos quem realmente somos a partir das nossas ações e escolhas correspondem ao que o filme mostra, visto que a partir do momento em que o personagem toma uma única decisão sua vida muda completamente. E, a partir dessa decisão, ele se encontra em um mundo que até então ele desconhecia e que precisa mentir para poder continuar a viver. E, é assim que ele segue “ganhando” a vida.

No fim, ele começa a assumir, de modo literal, a identidade de outras pessoas. Nem mesmo se reconhece como Marcelo Nascimento da Rocha. A história é simplesmente fantástica, surpreendente. O olhar do diretor, o modo como o enredo é construído, a interpretação do Wagner Moura (de quem eu sou uma super fã) e como tudo toma seu rumo, as pessoas com as quais ele cruza pelo caminho, tudo perfeito, em harmonia. Confesso que demorei a perceber o quanto esse filme é bom, denso e tudo o mais. Só no outro dia fui capaz de tirar algumas conclusões, fazer algumas interpretações e compreender fatos, inclusive do nosso cotidiano.
O filme é um traço da realidade. As pessoas, aos poucos, vão deixando de ser quem realmente são para irem à busca de fama, sucesso, dinheiro, reconhecimento, e, ao seguirem nesse caminho se perdem, esquecem-se da própria essência, do que já foram um dia, do que já aprenderam, dos valores passados pelos pais – ou não. Por fim, Marcelo é Constantino. Para ele, é como se sempre tivesse sido assim, como se fosse uma verdade absoluta (embora eu esteja de acordo com os sofistas, mais ainda Protágoras, de que verdade absoluta não existe e etc, mas, isso não vem ao caso), e, pior, os outros acreditavam facilmente nisso. Para completar a história, a mulher considerada louca, drogada, sempre excluída, criticada e infeliz, foi a única a ver o quanto Marcelo era “bom ator” (segundo ela, porque para ele, não era uma interpretação, estava sendo apenas ele mesmo – sim, é um pouco complicado explicar essa confusão, e aí, imagino a confusão na mente do Marcelo, rs). Enfim, só ela percebe que o que ele tem é patológico, não é uma mera “brincadeira”, farsa, ou, mais um golpe na elite. Também vale ressaltar que o clímax se passa em época de carnaval, o que tem muito a ver com as fotos no salão da mãe, inclusive com uma das fotos da mãe do Marcelo, isso eu deixo para vocês verificarem e tirarem suas próprias conclusões ao assistirem ao filme, aviso com antecedência, é “pesado” o que se pode inferir.

No fundo acredito que todo mundo já mentiu, brincou de imitações, fingiu ser quem não era numa situação que poderia terminar em “tragédia”, enfim, todo mundo já teve “seu lado Marcelo”. Porém, quero muito acreditar que nunca ninguém que esteja lendo tenha tornado isso uma verdade. Como já disse outras vezes, não dá para fugirmos do que somos, ninguém é feliz dessa maneira, sem contar que não é certo, de forma alguma, fazer algo do tipo. O maior erro que podemos cometer não é enganar aos outros, porque com os outros podemos nos reconciliar, pedir perdão, perdoar, mostrar que mudamos através de gestos, mas, o maior erro que podemos cometer é enganarmos a nós mesmos. Esse erro não tem volta, vai sempre pesar na nossa consciência, nos piores momentos virá à tona e pode acabar com nosso interior, nossos sentimentos e com tudo o que já construímos, inclusive, nossa formação como indivíduos, nossos valores.

Finalizando, o filme mostra muito mais do que escrevi aqui. Não tem como eu escrever tudo aqui porque perderia a graça para os que ainda não assistiram ao filme. Então, fico nessa superficialidade mesmo, só postando como dica, porque vale muito à pena. Mais um filme nacional que merece prestígio. Se desejarem mais um motivo para assistir, podem ir com a certeza de que ouviram uma trilha sonora ótima e darão algumas boas risadas. De qualquer maneira, quem nunca quis ser um VIP? Quem nunca foi ou é um VIP? Pois sim, se ainda não somos VIPs, seremos...

O filme nos pergunta: "Quem você quer que ele seja?". Mas, ao sair do filme, nós nos perguntamos: "Quem realmente eu sou?". Ou, "como eu mudei", "como eu tenho fugido do que realmente eu sou". Assim, ele também serve de autoavaliação, o que fica a critério de cada um.

Como devem ter percebido, eu gostei bastante do filme, assim como em Cidade dos Anjos há muito que se analisar, há uma grande carga psicológica, tanto que no site oficial do filme vocês poderão encontrar mais sobre essa análise psicológica, com a participação de psicanalistas e etc.

Aqui deixo o trailer para aguçar - ou não - ainda mais a vontade de vocês:



3 comentários:

  1. Como conversa a pequena... *-*
    Ahahahahaha

    Adorei a dica.
    E você já percebeu que o tempo não para?
    Mas voooooooa!

    Beijos e boa semana.

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  2. Aah Teca você já sabe né, sou "das mais conversadeiras"! :) Isso, quando não sou prolixa! kkkkkk

    Pois é, vale a pena mesmo assistir ao filme! Bom, eu gostei, espero que você também goste! Que responsabilidade me bateu agora, kkkkkkkk

    Tempo, tempo, tempo, pra quê quero tempo mesmo? hahaha Melhor eu nem entrar em detalhes agora...kkkk

    Beijaão, obrigada pela presença!
    *-*

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  3. Eu vou assistir a esse filme, Letícia. À época em que esse Marcelo foi preso eu acompanhei pelos jornais a história dele. É algo assustador e fascinante ao mesmo tempo. A ousadia sempre nos inquieta de algum modo. Valeu pela ótima dica. PS: o cinema nacional está melhorando dia apos dia. Abraços. paz e bem.

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Então, o quê você me diz?