segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Qual o futuro que queremos?

Não sou muito fã da Revista Veja (link) devido a sua clara tentativa de manipulação de mentes. Aos olhos de alguns posso até estar errada, mas é assim que eu a vejo. Se o leitor não for uma pessoa crítica com capacidade para formar opiniões próprias será sempre aquele “revolucionário leitor da Veja”, que terá opiniões de acordo com as ideias que a Revista deseja que os outros tenham em prol dela mesma – principalmente no que diz respeito a temas políticos. Porém, não tiro dessa revista os devidos méritos, sempre aborda temas polêmicos, as entrevistas das páginas amarelas são de grande interesse e outras abordagens muito bem feitas. Ao dizer que não sou muito fã, não quer dizer que eu não leia, ao contrário, sempre que posso leio, sem contar que é preciso ter acesso a todos os tipos de informações, manter-se sempre atualizado, etc. e por isso faço a crítica.

Repetidamente friso a questão educacional do nosso Brasil, que não é grande coisa. E nas duas últimas edições da Revista Veja me deparo com ótimas reportagens e crônicas a respeito da mesma. Lya Luft, Gustavo Ioschpe, J. R. Guzzo e Cia fazem belíssimos trabalhos quando a questão é revelar a população o caminho que nosso país está seguindo para que ajam melhoras. É fato que o Brasil poderia estar bem melhor classificado no quesito educação se maiores investimentos, bem canalizados, fossem feitos, se os políticos deixassem de se preocuparem consigo mesmos e o próprio bolso e parassem de desviar dinheiro público, se a população deixasse essa inércia de lado e fosse reivindicar melhorias e a garantia de que os direitos se cumpram, enfim, se toda a sociedade se preocupasse com o futuro da nação e das pessoas que constroem e fazem parte dessa nação.

Raros são os exemplos de pessoas que são capazes de agir e mudar algo no campo educacional. Admiro quem se dispõem a enfrentar inúmeros obstáculos para a promoção de mudanças que tem por finalidade beneficiar um todo. E também por conta disso fico preocupada que mais pessoas não o fazem. Será que lhes faltam motivos para agir em busca de melhorias para o “País de Todos”? Creio que não, diante de tantas notícias, dados numéricos e etc que nos são lançados diariamente mostrando os rumos da nossa educação. E, por sinal, não são somente as escolas públicas que possuem problemas grotescos, muitas escolas privadas também fazem parte de estatísticas nada satisfatórias. Ou seja, quem pensa somente nos filhos bem educados com apoio de escolas particulares não deve ter problemas com funcionários ou secretários vindos de escolas públicas com dificuldades em leitura e contas básicas, não é mesmo? Indico a vocês a leitura dos textos dos 3 autores já citados (Lya Luft, Gustavo Ioschpe e J. R. Guzzo) da última edição da Revista Veja (edição 2196).

Faço das palavras de J. R. Guzzo as minhas: “Tudo já muda completamente de figura, porém, quando se constata que 50% dos brasileiros não conseguem entender um texto simples de leitura, e 70% não são capazes de resolver questões primárias de matemática. Ou seja: diante de conhecimentos elementares, e sem os quais fica impossível ir um pouco adiante em qualquer atividade, estão na mesma situação de ignorância sem esperança experimentada pelo leitor no teste sugerido acima. Não se trata de um ou outro caso isolado; estamos falando, aí, de dezenas de milhões de cidadãos.”

“Sua maior aspiração possível é chegar, talvez, à ‘classe C’, que no momento deixa tão deslumbrados os cientistas políticos, economistas em geral e diretores de marketing. A cada notícia sobre o aumento da ‘classe C’, cada vez mais admirada por quem não precisa viver nela, o Brasil que pensa, influi e decide se enche de satisfação e dá o problema social do país por praticamente resolvido – ou garante que ‘estamos no caminho certo’. É óbvio que estamos no caminho errado. Como poderia ser o caminho certo, quando metade da população brasileira não entende o que lê?”.

E quanto a crônica da Lya nem vou comentar, sou uma fã dela, admiro demais o trabalho dela e está imperdível a última na Revista. Bem como a reportagem do Gustavo Ioschpe.

Gostaria também de dizer que embora eu ache que a revista tem mais espaço para publicidades e propagandas do que reportagens, ultimamente têm aproveitado bem os espaços com bons textos para leitura. Inclusive admiro o trabalho com a edição especial dessa semana, com uma revista exclusiva sobre sustentabilidade, otimizando a idéia de que é possível construirmos – ou reformarmos – um mundo melhor, em que riqueza, evolução, tecnologia, desenvolvimento, sejam compatíveis com o limite e o suporte da natureza. Enfim, confirmam o pensamento de que a sustentabilidade é possível sim, basta querermos e darmos o ponta pé inicial.

Também indico a leitura da "Carta ao Leitor" dessa última edição. Mais um crítica bem vinda aos nossos homens públicos, em decorrência do "pequeno" aumento salarial deles. Eu fico absurdamente indignada com isso tudo que se passa por aqui, no Congresso, na Câmara, na Presidência e na população apática que temos. É sério, eu fico com muita raiva no rumo que nossa política toma, no fato de que ninguém faça nada para mudar, ou ao menos tentar, e continuam resignados, milhões de resignados espalhados Brasil afora. Sem sombra de dúvidas esse é um grande erro que cometemos, e mais, sofremos as consequências e não nos importamos, apenas reclamamos numa fila de banco, numa reuniãozinha com os amigos e logo nos "esquecemos, viramos pro lado e dormimos" tranquilamente. Não concordo de forma alguma com essa situação, mas o que uma pessoa sozinha pode fazer para mudar um país inteiro? Pouca coisa, ainda mais quando grande parte dos que terião maiores possibilidades, chances de promover mudanças também tem o rabo preso nos esquemas ilícitos de grande parte dos políticos. Na República Democrática em que vivemos quase nada de democracia encontramos, e assim vamos levando, como se fosse tudo mil maravilhas.

Estamos presenciando, de acordo com os dados, o quanto o Brasil está progredindo, o quanto o Brasil terá um grande futuro, se transformará numa potência mundial. Mas, e principalmente, também estamos presenciando o nível catastrófico educacional, as calamidades da saúde pública, os desastres e a falta de infra-estrutura, a "qualidade" - se é que existe - dos nossos representantes no poder público com suas "bem feitorias" - em favor próprio. Num país repleto de riquezas, de natureza e paisagens inigualáveis, de uma boa economia, nem mesmo políticas ambientais são levadas a risca - isso, quando se tem as políticas ambientais, abrindo margem para que outros países "colonizem" o que já é nosso patrimônio. Diante desses fatos estamos realmente regredindo, de educação a políticas ambientais vamos de mal a pior. Mesmo que muito já tenha melhorado, tem muito mais na fila para que também seja melhorado. Até quando iremos suportar esses inúmeros "erros" calados, silenciosamente, submissos e dando carta branca para que os parlamentares façam o que bem entenderem? Qual o futuro que estamos construindo? Qual o futuro que estamos planejando? Qual o futuro que realmente queremos?

Lembrei-me de um trecho que li em algum lugar, mas, como percebe-se não lembro o lugar, nem mesmo o autor, quem souber, só informar. Diz assim: "Sou um só, mas ainda assim sou um. Não posso fazer tudo, mas posso fazer alguma coisa. Por não poder fazer tudo, não me recusarei a fazer o pouco que posso. O que eu faço é uma gota no meio de um oceano, mas sem ela o oceano será menor." 

2 comentários:

  1. Olá, Letícia.

    A frase é da Madre Tereza de Calcutá, e sempre é atualíssima.

    Quanto a questão da revista Veja, não a enxergo como uma manipuladora de mentes, pois vejo no povo uma incapacidade crítica enorme. Obviamente, como uma empresa que visa lucros, tanto Veja quanto Globo e outros meios de comunicação têm que dar ao povo algo que ele queira, e é de onde vem muita coisa que pouco se aproveita. Mas, como você tão bem frisou, é também desses canais de comunicação que partem as denúncias e alguns direcionadores amplamente positivos.

    Eleição após eleição, dizem que o povo é esquecido. Creio que a situação seja outra, e muito pior. O povo age como verdadeiro zumbi, apenas repetindo o que lhe é dito e ordenado. Reclamam de tudo, mas na hora de fazer algo, esmorecem. E isto é reflexo de muitos anos preso ao cabresto da incultura. E os governantes e legisladores jamais vão retirar esse cabresto, pois sabem que um povo culto sempre vai querer melhorias, enquanto um povo "burro" aceita o que lhe for dado.

    Mas você não está sozinha. Várias cabeças pensantes estão em sincronia com a tua. E o número tem aumentado. Sou um idealista e sonhador, mas espero ainda ver esse país mudar, e para melhor.

    Crônica perfeita. Parabéns, Letícia.

    Marcio

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  2. Olá, Letícia. A história tem registrado e não mudou nos últimos 20 séculos pelo menos, que a nossa evolução é muito no campo sanitário , tecnológico e material. As mentalidades não evoluíram muito. O percentual de pessoas (que a gente pode chamar de brilhantes, por dostoarem do senso comum) continua estático. Muito bom o seu artigo. Abraços. Paz e bem.

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Então, o quê você me diz?