domingo, 27 de fevereiro de 2011

Ser solidário

Ontem passei pelo blog da Carla, o Le Petit Coin , e deparei-me com um post muito interessante, sobre o assunto solidariedade. Eu já tinha escrito alguma coisa a respeito do mesmo tema, assim, reuni partes desses textos, acrescentei mais algumas coisas e formei esse abaixo, visto que esse tema deve sempre ser comentado, divulgado, compartilhado e discutido.

Sem sombra de dúvidas a solidariedade é um gesto e uma atitude que nem todos são capazes de distribuir e menos ainda são os que sabem recebe-la. Quem sabe o significado de solidariedade a valoriza, pois ela é uma virtude, possui ideais cristãos de compartilhamento de bens espirituias antes mesmo dos materiais. Através da solidariedade também podemos promover um mundo mais igualitário e justo (pelo menos utopicamente). Mas, antes de possuir esse sentimento solidário acredito que devemos ter o sentimento da compaixão, tanto para quem quer ajudar quanto para quem quer receber. Se essas pessoas não estiverem com a alma repleta de compaixão não ajudarão verdadeiramente, ou, não deviam ter o direito a receber ajuda.



Há alguns finais de semana o programa Esquenta, com apresentação de Regina Casé, está no ar na TV Globo - todos os domingos na hora do almoço. Já assisti a uns 3 programas e percebi o quanto a Regina Casé é uma pessoa admirável. Sim, antes eu não era muito fã dela, vai ver era pelo jeito espalhafatoso, porque das roupas continuo não gostando, rs. Mas então, eu realmente vi, digamos que, a "alma" dela. Muitos exemplos de solidariedade foram mostrados, atitudes dignas de uma cidadã de corpo e alma e uma mistura brasileira como nunca tinha visto antes. Comecei a reparar no quanto aquela mulher tem um coração bondoso, enorme e se expressa muito bem, acorda as pessoas para a realidade, instiga-nos a darmos o nosso melhor em todas as áreas da vida, enfim, um grande ser humano. Lógico, não sei como é pessoalmente, sem estar na frente de uma câmera, mas espero profundamente que seja assim como se aprensenta para o público. Por que estou falando dela? Porque hoje eu quase chorei (de verdade) no programa dela, quando vi ela falando que ia ajudar uma criança e um outro rapaz apareceu com os olhos se derramando em lágrimas porque também já tinha sido ajudado por ela, e estava vendo no menino o seu passado, estava revendo as oportunidades que teve e o quanto a solidariedade da Regina lhe foi importante. Sabe, não sei se já comentei por aqui, mas meu sonho depois de me formar médica é poder dispor de um tempinho no meu dia-a-dia para poder ajudar quem não tem condições de pagar quase um salário mínimo numa consulta médica, quem não tem tempo de sobra pra ficar dias e dias numa fila para ser atendido (correção: mal atendido). Pretendo entrar no Projeto da Cruz Vermelha ou qualquer outro que possa ajudar-me a concretizar mais um sonho meu. Não vou fazer medicina pensando só no retorno financeiro, lógico que isso faz parte, mas antes de tudo eu quero entrar de corpo e alma na profissão, porque é uma coisa que eu gosto, porque vai me ajudar a distribuir um pouco de solidariedade, de ajuda humanitária, mundo afora, afinal, tem tanta gente precisando disso e disposta a receber com compaixão, não é mesmo? Também quero deixar claro que sou consciente de que não mudarei o mundo, mas as mudanças partem das pequenas atitudes que cada um tem no seu cotidiano.

Todos os finais de ano, todos os verões, veremos milhares de mortes por deslizamentos, soterramentos, desabamentos e tudo o mais de "entos" que surgir. Não, não estou desejando mal às pessoas e também não sou uma vidente, apenas estou falando da realidade que vivemos, é só questão de observação. O governo não tenta melhorar a vida desses cidadãos e os próprios cidadãos não tentam melhorar, então fica tudo na mesma. Até mesmo porque muitos sabem que se acontecer de novo aparecerão "um milhão" de pessoas para doar, ajudar e "facilitar" sua vida. Sim, muitos pensam dessa forma, acham que é obrigação de quem tem um "pouquinho mais" ser solidário com quem tem um "pouquinho menos", apenas ficam sentandos a espera de algum inocente disposto a ajudar. Enquanto isso inúmeras outras pessoas ralam dia-a-dia numa roça, num lixão, num serviço braçal e ganham menos do que o "pobre coitado" que recebe ajuda. Acho que antes de nos solidarizarmos com as pessoas devemos conhecer suas histórias, ver se realmente precisam dessa ajuda e se vão valorizar esse seu gesto e não tornarem-se uma sombra sua, vivendo as suas custas. Sim, é difícil "descobrir" isso tudo, mas ao menos você vai ajudar alguém que merece. Tenho certeza de que muitas doações feitas aos moradores atingidos pelo desastre na região serrana do Rio de Janeiro foram parar nas mãos de "voluntários", foram estocados por excesso, falta de necessidade ou porque não poderia ser usado mesmo (alguns tem o disparate de mandar o que não presta mais). Como eu já comentei no blog da Carla, tem tanta gente próxima a nós precisando de ajuda, porque não ir além de doar bens materiais e também doar um pouco de amor, de calor humano, de compreensão, elas não precisam só de mantimentos. Sem contar que no momento em que você manda esses tais mantimentos não sabe se realmente chegará nas mãos de quem precisa. Minha mãe já participou como voluntária, uma tia minha participou em Santa Catarina em Itajaí ano retrasado e ambas disseram as mesmas coisas, de que muita gente que estava como "voluntário" pegou para si objetos e mantimentos que foram enviados para os necessitados, ia só para "roubar" mesmo. Minha mãe também sempre diz que ao ajudar alguém, está fazendo a parte dela, de consciência limpa, o que a outra pessoa vai fazer com o dinheiro, por exemplo, é da consciência da pessoa. Mas, sabe, eu acho que se a gente pode ajudar e também pode saber se o que foi doado será bem aproveitado não precisamos dizer isso, às vezes a pessoa nem sabe o que é consciência pesada, afinal, já conseguiu os "trocadinhos" que queria mesmo! Antes de qualquer coisa quero ressaltar que em momento algum julgo as pessoas que mandam esses mantimentos, que fazem essas doações, se estão fazendo de coração é um gesto muito bonito, mas porque também não olhar mais para aqueles que estão a sua volta, que estão na sua cidade, no seu bairro?


A vida não é fácil pra ninguém, isso é fato. Mas se alguns são um pouco mais privilegiados que outros e tem a chance de ajudar a vida de alguém deveria ter uma atitude dessas, não custa muito. Como já disse, às vezes as pessoas precisam mais de apoio psicológico do que financeiro. A solidariedade é uma virtude ímpar, a partir dela muitas pessoas mudam de vida, mudam vidas e melhoram um pouco o mundo. Creio eu que ajudar alguém e ver nos olhos da pessoa a gratidão estampada não tem preço que pague, acho que foi por isso que eu quase chorei durante o programa da Regina Casé, foi lindo os olhos daquele rapaz, da criança e da mãe da criança cheio de lágrimas alegres por um ato que pouco custa à Regina. Nada melhor do que contribuir com alguém e poder ver um sorriso alegre, poder sentir um abraço caloroso, poder ser retribuido com uma cartinha, com um gesto simples, com um cafezinho que seja. Não tem preço que pague sentir-se bem consigo e com o mundo, sentir uma paz interior e saber que fez a sua parte. Acho que o mundo está em falta de pessoas com a alma limpa, com a consciência limpa e dispostas a melhorar o lugar em que vivemos, até mesmo porque, formamos uma sociedade, em que cada ação gera uma reação, cada gesto bom é retribuido por outro e mais outro. Por isso eu digo que tanto quem é solidário quanto quem recebe esse ato deve ter compaixão no coração, porque será através da compaixão que o solidário escolherá a quem ajudar e por meio da compaixão o escolhido poderá disseminar esse gesto, compartilhar com outros e ser para sempre grato a quem foi capaz de ajuda-lo. Vale ressaltar que compaixão é não ter indiferença frente ao sofrimento do outro. Então, sigamos assim, repletos de compaixão, amor, paz, simpatia, empatia e solidariedade!

Na obra "A História do Rei Lear" (texto quarto, cena 13), William Shakespeare descreve magistralmente o que é esta relação  com o sofrimento. 
(...) Quem sofre sozinho, sofre muito mais em sua mente (espírito). Deixa para trás a liberdade e a alegria. Mas a mente (espírito) com muito sofrimento pode superar-se, Quando a dor tem amigos e suportam a sua companhia, quão leve e suportável a minha dor parece agora. (...)

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